quarta-feira, 4 de junho de 2014

A SATA e as contas de 2013

Foto - Aníbal C. Pires
O Grupo SATA tem o seu Relatório de 2013 aprovado, fica a faltar a divulgação pública. Sem prescindir de voltar ao assunto quando tiver acesso ao relatório e, nessa altura com uma opinião devidamente fundamentada, não quero deixar, todavia, de tecer algumas considerações sobre o que foi divulgado publicamente através de um comunicado da administração da transportadora aérea regional.
Esperados. Diria mesmo que são os resultados desejados por quem, no Governo Regional e no PS, na administração do Grupo SATA e por um setor da população que olha para a transportadora aérea regional, em particular a SATA Internacional, como a fonte de todos os males que afetam a mobilidade dos cidadãos e estrangula a atividade económica, esquecendo-se que o problema não reside na SATA mas na vontade dos representantes dos acionistas, ou seja, na estratégia do Governo Regional para as empresas do Grupo.
Não deixa de ser paradoxal que a congénere nacional, a TAP, esteja em fase de expansão, apesar dos custos com o trabalho serem mais elevados do que na SATA, ou que empresas como a EuroAtlantic estejam em crescimento, apesar da retração do mercado provocada pela crise económica que nos assola, isto para não alargar o espectro porque muitos outros exemplos existem que contrariam as razões avocadas para justificar os resultados negativos do Grupo, para os quais a SATA Internacional contribui com a maior fatia, desde logo a retração da atividade económica e a consequente diminuição da procura. Pois é mas a TAP foi a transportadora aérea europeia que mais aumentou o número de passageiros transportados durante o ano de 2013, mais 5%, ano de grande retração segundo a administração da SATA.
Um conjunto de falácias e má-fé, é assim que se pode caraterizar o comunicado que o Grupo SATA fez distribuir à comunicação social no passado dia 30 de Maio após a realização da Assembleia Geral das empresas do Grupo.
Vejamos, segundo a SATA (…) o desempenho económico foi fortemente afetado, entre outros, pelos seguintes fatores:
a) Retração da atividade económica a nível nacional e internacional e o seu consequente impacto direto na procura de transporte aéreo;
b) Aumento dos custos previsto com o pessoal, por força das decisões do Tribunal Constitucional;
c) Perda de contratos celebrados, custos com irregularidades e quebra significativa de vendas, nomeadamente em períodos que correspondem a picos da operação, todas elas decorrentes da instabilidade laboral que afetou a empresa no primeiro semestre;
d) Reparações em aeronaves que não se encontravam previstas; (...)
Ou terá sido a estratégia comercial e a propositada redução da atividade da SATA Internacional que contribuiu para a diminuição do número de passageiros transportados, aliás a TAP consegue o aumento do número de passageiros transportados à custa das rotas para a Europa, Regiões Autónomas e África.
Uma outra justificação para os resultados negativos é também de desresponsabilização da administração e da tutela, ou seja, tal como Passos Coelho a administração da SATA imputa responsabilidades, que são suas, ao Tribunal Constitucional.
Bem mas os custos com pessoal deviam estar previstos pois a anormalidade são os cortes impostos pelo Governo do PSD/CDS e não a manutenção do valor da massa salarial e, também aqui a administração da SATA passa uma esponja pela situação da TAP onde os cortes foram repostos, mais cedo, e em condições mais favoráveis do que na SATA e, ainda, em jeito de avaliação da administração e da tutela: uma empresa que, só contando com reduções administrativas de salários é que tem bons resultados, não indicia boa gestão. Digo eu.
Foto - Aníbal C. Pires
Continuando a “sacudir a água do capote” a administração da SATA atribui a perda de contratos celebrados e outras irregularidades à situação de conflitualidade laboral que se verificou em 2013, como se a responsabilidade não fosse da própria, e aqui diria, não da administração da SATA mas da tutela, ou seja do Governo Regional, aliás a conflitualidade que se verificou foi em períodos curtos e, mesmo considerando que as greves, para as quais os trabalhadores foram empurrados, contribuíram para os resultados negativos do Grupo a verdade é que a quebra significativa de vendas não fica a dever-se a este facto mas à retração da operação da SATA Internacional e à insuficiência de tripulações, que motiva o recurso sistemático à contratação de ACMIS, com os custos acrescidos que isso representa. Um exemplo de perda de contratos foi a operação de Cabo Verde que passou para a TAP pois a transportadora aérea nacional promoveu a operação para a ilha da Boavista nos moldes em que os operadores solicitavam à SATA, ou seja, 2 voos semanais a par dos voos que já existiam para as outras ilhas deste arquipélago.
Por outro lado, se analisarmos a operação da SATA Internacional nos primeiros meses deste ano verifica-se que existem muito mais irregularidades na operação do que no período homólogo de 2013. Vamos ver qual será a justificação no relatório de 2014.
É por demais evidente que as irregularidades na operação se ficam a dever a problemas de gestão mas, sobretudo, à estratégia da tutela de redução de pessoal, designadamente pessoal de voo, que segundo alguns experts na matéria auferem salários milionários e são os grandes responsáveis pelos maus resultados financeiros do Grupo. Não será por acaso que da leitura do comunicado ficamos a saber do contributo da SATA Internacional para os maus resultados mas, nos é obliterada informação sobre os resultados, positivos ou negativos, das outras empresas do Grupo.
Quando ouço ou leio esses experts lembro-me sempre de outros salários que são praticados em Portugal e também no estrangeiro, e onde os tripulantes da SATA terão lugar garantido, assim o queiram.
Quanto ao quarto motivo que, segundo o comunicado de imprensa da administração da SATA, justificam os resultados negativos é atribuído a reparações em aeronaves que não estavam previstas. Bem esta será de todas as justificações a mais plausível, assim de repente lembro-me de um tail strike com um A310 em Ponta Delgada (internamente, a SATA considerou-o como acidente, e o relatório preliminar do GPIAA classificou de incidente grave) e, da necessidade de substituição de um motor de um dos Dash 200, que ao que julgo saber os custos terão sido suportados pela empresa responsável pelo overhall do mesmo que terá assumido a sua total reparação, pois a aludida aeronave tinha apenas cerca de 200 horas após última reparação efetuada. Outras reparações não previstas terão acontecido, aguardemos pelo relatório completo.
A conclusão plasmada no comunicado de imprensa e que, certamente, foi resultado da Assembleia Geral das empresas do Grupo não deixa de ser sintomática, e cito. O Grupo SATA tem condições para assegurar o equilíbrio da sua exploração, caso não seja afetado por fatores externos, que impliquem de forma direta com a sua atividade. 
Brilhante conclusão. A Assembleia Geral antecipa eventuais justificações para o relatório do ano em curso. E, em sombra de dúvidas que o voto de confiança que a Assembleia Geral deposita no futuro do Grupo SATA e no desempenho da administração entretanto nomeada, fica com esta conclusão, perfeitamente justificada.
O que continua por responder é: qual é a estratégia para a SATA Internacional, pois parece que tudo é feito no sentido da sua deliberada desvalorização e isso só pode resultar em prejuízo do Povo Açoriano e dos Açores.
Horta, 03 de Junho de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular et Açores 9, 04 de Junho de 2014

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