segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O assalto continua


Foto - Catarina Pires
O falhanço das políticas de austeridade, quer sejam as que decorreram do “memorando de entendimento”, vulgo resgate, pacto de agressão ou, simplesmente, programa da troika, quer sejam as que foram acrescidas por iniciativa do governo português, pela mão do PSD e do CDS/PP,  demonstrando uma subserviência humilhante e que contribuíram para acelerar a recessão económica e o empobrecimento dos portugueses, sem que nenhum dos objetivos com que se justificaram essas opções políticas fosse cumprido. A dívida pública cresceu e o valor do défice está muito aquém do que foi imposto e previsto. O rendimento subtraído ao país e ao povo português foi diretamente para os cofres da banca internacional e, tal como todos já percebemos, o roubo vai continuar. 
O aumento da carga fiscal, os cortes salariais, o congelamento das carreiras, a redução e revisão dos apoios sociais, o feroz ataque aos setores sociais do Estado, o desrespeito pela Constituição da República, tiveram como resultado um retrocesso social e económico sem precedentes. Os portugueses estão mais pobres e desprotegidos e não há propaganda que negue o que os indicadores sociais e económicos evidenciam.
A ideia do “milagre económico português” fica inteiramente desmistificada com os números do incomportável serviço da dívida, com um crescimento económico anémico e, sobretudo, com os dados do desemprego, que são mascarados pela emigração de milhares e milhares de portugueses e, com os mais de 180 mil trabalhadores considerados como “ocupados” apenas porque andam de ação de formação em ação de formação, sem conseguirem efetivamente obter o emprego de que necessitam.
A situação do país será ainda agravada pela dimensão, ainda não inteiramente conhecida, do colapso financeiro do BES/GES, 4,4 mil milhões de Euros foram já desviados do erário público para auxiliar este banco privado, e estão em risco muitos, dos mais de 25 mil, postos de trabalho no conjunto das empresas do BES/GES. 
O Governo da República perspetiva para 2015 a continuação do corte nas funções sociais do Estado, da austeridade cega e da continuação dos sacrifícios para todos os portugueses.
Em vigor, estão de novo, os cortes salariais aos trabalhadores da administração pública, agora sob a forma que lhe deu o PS em 2011, mas cujo significado é o mesmo, ou seja, a continuidade das opções políticas que obrigam a generalidade dos portugueses a suportar os erros da governação e os desmandos da economia de casino e, que nos traz à memória a responsabilidade que os Antónios (Costa e Seguro) do PS têm neste processo político de continuada desvalorização do trabalho e de desmantelamento do Estado. Sei bem que o protagonista era José Sócrates mas, em boa verdade, nem à data, nem durante, nem no presente foi dado nenhum sinal, pelos Antónios, de não concordância com as opções tomadas pelos governos do PS, nem posteriormente quando o PS passou à oposição. A não ser as abstenções violentas, vá-se lá saber o que isso é, com que o António Seguro posicionou o PS face ao governo do PSD e do CDS/PP, posicionamento do PS sobre o qual o António Costa não tugiu nem mugiu.
A situação nacional tem reflexos agravados nos Açores e, nem mesmo os números recentemente divulgados, pelo INE, que indicam uma ligeira redução do número de inscritos nos Centros de Emprego da Região em relação ao mês homólogo do ano anterior, facto que não é sinónimo de uma efetiva redução do desemprego nos Açores, disfarçam a ineficácia da governação nos Açores. É importante notar que a multidão de trabalhadores inscritos em programas ocupacionais temporários, correspondem, cada um deles, a um posto de trabalho real, útil e necessário e que, é o Governo Regional que escolhe não os contratar efetivamente, optando por utilizá-los como mão-de-obra barata e descartável. Uma vez terminados os programas, estes trabalhadores são de novo empurrados para o desemprego, muitas vezes sem qualquer apoio ou subsídio.
Cresce, assim, a pobreza e  a exclusão no nosso arquipélago, com sinais claramente visíveis mesmo nas ilhas de menor dimensão, sem que o Governo Regional consiga ir além de respostas assistencialistas, parcelares e insuficientes.
Ponta Delgada, 21 de Setembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 22 de Setembro de 2014 

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