quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Assim não

Foto - Madalena Pires
Que a Região necessita de um plano integrado de intervenção para fazer face ao drama social e económico vivido pelas açorianas e açorianos de todas as ilhas, é um facto. Que face ao Plano de Revitalização Económica da Ilha Terceira (PREIT) tenham emergido posicionamentos que colocam em causa a construção da identidade regional, é grave. Promover a atomização das ilhas favorece o bairrismo bacoco e prejudica o desenvolvimento harmonioso da Região. Parece um paradoxo, Pois parece mas não é. Desenvolvimento harmonioso não significa ter tudo em cada uma das nossas ilhas, desenvolvimento harmonioso significa complementaridade e valorização do potencial endógeno de cada uma das ilhas açorianas, desenvolvimento harmonioso significa coesão social, coesão económica e coesão territorial. Desenvolvimento harmonioso significa elevar a qualidade e bem-estar de todos e cada um dos habitantes destas ilhas, de todos e cada um dos habitantes desta Região.
As políticas de austeridade iniciadas com o Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) imposto pela União Europeia, como condição necessária para a entrada na União Monetária, ou seja, para a adesão à moeda única. Ou seja, desde 1997 que se pôs em marcha o processo que levou à tragédia social e económica que se vive na União Europeia, em particular para alguns dos países que vieram aderir à União Monetária. Calamidade que afeta, mais uns do que outros países, aliás alguns ganham mesmo muito, como seja a Alemanha, outros pagam e muito, mesmo muito, como Portugal. Portugal onde entram por dia 11 milhões de euros de fundos comunitários e saem, também por dia, 19 milhões de euros para pagamento dos encargos da dívida. O saldo é francamente negativo.
Estas políticas têm responsáveis e os responsáveis têm nome, têm partido e famílias políticas europeias, as mesmas famílias que têm governado e governam a União Europeia e a generalidade dos países que a constituem. Valha-nos a coragem do povo grego que deu legitimidade democrática, vá-se lá ver, a um partido que não pertence ao tradicional arco do poder e que tantos engulhos tem provocado a alguns responsáveis políticos europeus e aos seus servis acólitos. Enjoos que irão perdurar pois não me quer parecer que o povo grego esteja disponível para continuar a ser alvo, tal como os portugueses o são, da gula dos oligopólios financeiros que a senhora Merkel tão bem representa.
O Siryza até pode não conseguir vergar a Alemanha mas já conseguiu alguns apoios no seio da União Europeia e a sua vitória eleitoral levou a que Barack Obama, o próprio, tivesse afirmado: "Não se pode continuar a apertar os países que estão numa depressão profunda. Em algum momento tem de haver uma estratégia de crescimento para que esses países possam pagar as suas dívidas e reduzir os seus défices". O que não é mais do que o reconhecimento de que a estratégia europeia foi longe de mais e que já não serve o capital. Mas significa também o reconhecimento de que a dívida grega, assim como a portuguesa, são impagáveis a não ser que sejam induzidas políticas públicas de crescimento. Claro que para Obama a palavra crescimento não terá o mesmo significado que para mim, claro que a Obama interessa manter a Grécia na esfera da União Europeia, não vão os gregos encontrar parceiros e mercados alternativos mas, apesar disso, não posso deixar de relevar a posição do Presidente dos Estados Unidos perante este novo cenário político na União Europeia. Obama veio dizer que assim não, Não é possível pagar dívidas públicas com políticas que empobrecem os cidadãos e os povos.

Horta, 10 de Janeiro de 2015

Aníbal C. Pires, 

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