segunda-feira, 6 de abril de 2015

Je ne suis pas Charlie, je suis humaine

Foto retirada da Internet
Não sei se por ser Páscoa, Talvez, não sei. A comunicação social não fez manchetes com a notícia e os “líderes” mundiais mantiveram-se no sossego da quadra, nem uma vigília promoveram quando o que se exigia era uma manifestação na capital queniana à semelhança da que foi promovida em Paris, aquando do atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo.
Um grupo radical islâmico massacrou 148 estudantes na Universidade de Garissa, na cidade queniana do mesmo nome. Foi na passada quinta-feira e ainda não dei conta de um, dos milhares e milhares, “Je suis Charlie” que infestaram as redes sociais e até me insultaram por eu afirmar que não era Charlie, mas sim humano e, porque sou humano indigno-me perante este como qualquer outro ato de violência, indigno-me perante o sofrimento deste Mundo tão desigual, Desigual até na solidariedade para com vítimas dos radicalismos. A solidariedade como muitas outras reações e sentimentos parece depender da geografia. Na Europa foi um massacre, em África… não importa aos “Charlie” deste Mundo tão desigual.
Os jovens universitários massacrados na Universidade de Garissa eram cristãos, os interesses atingidos em Paris eram judaicos, não me interessa saber qual a religião ou a cultura a que pertencem as vítimas, são vítimas de interesses que lhe são estranhos. Interesses que nada têm a ver com Deus, seja qual for a forma como os fiéis (cristãos, judeus ou muçulmanos) se lhe dirigem, afinal trata-se da mesma entidade. Transformar esta tragédia e a escalada de violência dos grupos radicais (de Estado ou não) numa guerra religiosa e/ou num confronto de civilizações é usar um velho expediente o apelo aos Céus, como sempre foi ao longo da história da humanidade, para justificar e escamotear as verdadeiras razões que lhe estão associadas. Não perceber isso é ser um “Charlie” de ocasião, percebê-lo é ser humano e independente, livre. Livre do domínio dos amos do Mundo. Só sendo livre é possível escrever a nossa própria história e lutar pela transformação da vida e do Mundo, desde logo da nossa própria vida.
Imagem retirada da internet
A luta contra a servidão e a escravidão a que nos submeteram emerge como uma necessidade vital para podermos, afinal, atingir o que todos desejamos, A felicidade. Essa satisfação incomensurável de viver libertos da ditadura que nos regula e conforma a vida, minuto a minuto.
A revolução científica e tecnológica e, a evolução social que a deveria ter acompanhado para proporcionar uma vida digna para todos foi pervertida, não está ao serviço da humanidade mas da ganância dos amos do Mundo e nós, livremente escravizados reagimos como autómatos, como os “Charlies” de ocasião. Cumprimos sem questionar e esperamos… e assim não há sorte que nos valha nem mal que não nos chegue.

Ponta Delgada, 05 de Abril de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 06 de Abril de 2015

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