segunda-feira, 4 de maio de 2015

Talvez por ser Domingo

Foto - Madalena Pires
Hoje estou numa de melancolia. Não sei se por ser Domingo, se por ser o dia consagrado à Mãe, segundo o calendário comercial pois, no calendário dos filhos a Mãe louva-se todos os dias, se por já quem não está, se por quem cá está, ainda que a 900 milhas de distância, talvez por tudo isso e, ainda, quiçá por coisas de somenos importância como seja, sei lá viver num país onde as televisões passam as manhãs da Júlia, as tardes da Fátima as noites das novelas, dos “reality shows” e dos concursos para quem quer ser milionário, todos eles a disputarem, com o futebol comentado, o topo das audiências. Embora de somenos importância isto incomoda-me, deixa-me mesmo preocupado e, às vezes, pergunto-me como é possível tanta mediocridade, como é possível que um Povo se deixe, assim, estupidificar e troque a vida pela entorpecimento servido nas televisões. Mas, também, só assim se percebe que este Povo tenha trocado Abril por Novembro e aberto a porta para o regresso dos “donos disto tudo”. Sei que não é tão simples como parece dito, assim, com meia dúzia de palavras secas e duras mas hoje não dá nem para amaciar o discurso, nem para aprofundar as causas que estão na origem deste Povo e deste País se terem vendido por um prato de lentilhas.
Mas esta coisa dos estados de espírito, por vezes acabrunhados, outras vezes capazes de enfrentar, com toda a alegria, as agruras da vida, tem pouco que se lhe diga e, até o próprio tempo mais solarengo ou mais cinzentão afeta a nossa boa ou má disposição. Importa, contudo, fazer algumas pausas quando nos invade a abatimento e se instala a inércia, assim como é costume dizer-se, “ vou sentar-me num canto e esperar que a crise passe”, mas não só. A crise até pode passar mas o que lhe esteve na origem, mais tarde ou mais cedo, regressa e volta a instalar-se a “crise” que nos descontenta. Enquanto estamos sentados no “canto” é bom que se inventarie o que nos preocupa, o que nos indispõe, o que nos cerceia a vontade, o que nos entristece pois, só assim será possível identificar as causas, passadas ou presentes, que estão na origem da “crise”. Conhecidas que sejam as causas da “crise” mais fácil será de tomar decisões com o objetivo de as debelar e resolver, de uma vez por todas, a “crise”.
Este texto hoje está a roçar o absurdo mas também ninguém se importará com isso. É mais um dos cíclicos devaneios do Aníbal, dirão os costumeiros leitores deste espaço, prá semana ele volta mais incisivo e a tratar de assuntos objetivos. E assim será. Digo eu, sem ter a certeza que assim venha a ser, tudo irá depender da minha disposição, da minha disponibilidade e, sobretudo, da minha tolerância.
Garanto que a minha inquietude de hoje não se deve ao tempo húmido e chuvoso ao qual se juntou vento forte e agitação marítima. O tempo invernoso que se fez sentir na passada, pelo contrário, causou em mim uma estranha serenidade e, decerto, não contribuiu para que neste Domingo, por sinal ensolarado, se abatesse sobre mim o baço manto da melancolia. Outros terão sido os motivos, talvez até tenham sido aqueles que parecem ser de somenos importância mas que, sei-o bem, são determinantes nas minhas inquietações.

Ponta Delgada, 03 de Maio de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 04 de Maio de 2015

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