quinta-feira, 7 de maio de 2015

Do tempo que corre

Foto - Ana Loura
Não está fácil lidar com os tempos que vivemos, nada fácil. A cultura política bipolar alimentada pelos órgãos de informação, o acriticismo fomentado pelas Escolas de diferentes níveis de ensino para que nada mude, o acessório ao invés do essencial, o imediatismo nas decisões, o determinismo dos estudos de opinião ao invés dos princípios e valores, a atomização social em detrimento do interesse coletivo e tudo o mais que vai caraterizando este nosso tempo.
Como se explica que em ano de eleições para a Assembleia da República, eleições de onde resultará um novo quadro parlamentar que pode, ou não ditar um governo que defenda os interesses do país e do povo, dito de outra forma um governo patriótico e de esquerda, assim os portugueses o queiram mas, como dizia, como se explica que havendo, este ano, eleições para a Assembleia da República a agenda política e mediática esteja focada nas eleições presidenciais do próximo ano. Não que lhes queira retirar importância porque a têm mas, há algo estranho nesta antecipação mediática e, tenho cá para mim que isto não é por acaso. Vejamos quem é que sai favorecido com a discussão centrada nas presidenciais e nos putativos candidatos à presidência e, talvez se perceba. E quem beneficia são os partidos do “arco da governação”, os que exercem o poder (PSD e CDS/PP) porque lhes convém que a atenção dos cidadãos não esteja focada na ação governativa e nos sucessivos indicadores da falência das suas decisões e opções políticas. Por outro lado o partido que se coloca na linha de partida eleitoral como o alternante (PS) à governação da direita também recolhe benefícios desta mistificação pois, assim vai evitando mostrar que não constitui uma verdadeira alternativa política e que as suas propostas para o país em nada são diferentes da receita que tem sido aplicada pela direita, ou seja, governar para alemão ver e português sofrer.
Mas se no país o ambiente político está centrado nas presidenciais por cá o alternante, neste caso o PSD, já está em plena campanha eleitoral e as eleições regionais só acontecem bem lá para o último trimestre de 2016. As insuficiências e fragilidades do PSD nos Açores e do seu líder assim o aconselham, ou pelo menos assim foram aconselhados por algum especialista em marketing, quiçá depois de conhecido algum estudo de opinião desfavorável mas, com sustentação científica.
Se as dificuldades do PSD em se apresentar como alternativa política ao PS Açores são visíveis para quem acompanha de perto a vida política regional, basta ver a capacidade de iniciativa parlamentar dos restantes partidos da oposição para o comprovar, a assunção dessas dificuldades pelo PSD e pelo seu líder tomou, recentemente, outros contornos. Para quem frequenta as redes sociais, designadamente, a que por cá tem mais popularidade já se deu conta disso. Para além das clássicas páginas que todos os partidos mantém nas redes sociais apareceu agora uma outra, a patrocinada ADF.9. Conferidos os conteúdos aí temos os chavões eleitorais do PSD e, permitam-me, um certo culto ao atual líder, diria mesmo que a adulação ao líder é, talvez, exagerada, digo eu que não sou especialista em marketing político, nem no mercado eleitoral.

Ponta Delgada, 04 de Maio de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 06 de Maio de 2015

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