quarta-feira, 10 de junho de 2015

A excelência subaproveitada

Foto - Aníbal C. Pires
As políticas regionais, ou a sua ausência, às quais acrescem os efeitos das políticas nacionais de submissão aos interesses financeiros que imperam na União Europeia têm contribuído para acentuar o processo de perda de população da ilha de São Jorge, um fenómeno que se tem vindo a agravar e que coloca em causa o desenvolvimento social e económico desta, como de outras ilhas da Região. Na origem deste fenómeno estão os problemas do emprego e do sector produtivo, base económica da ilha, que continuam num processo de estrangulamento e desvalorização progressivos.
As autarquias jorgenses apesar do estrangulamento financeiro a que estão sujeitas procuram, dentro das suas competências, inverter a sangria populacional incentivando e apoiando a fixação e captação de população. Este esforço pode e deve ser articulado e apoiado pelo poder regional, afinal tratam-se de políticas de coesão e, quando falamos em coesão falamos de um dos pilares da autonomia, pilar que a governação do PS tem vindo a deixar ruir.
À estabilização financeira das Cooperativas de Lacticínios não tem correspondido uma valorização do rendimento dos produtores de leite e o aumento de 2 cêntimos por litro de leite, pago ao produtor, está longe de compensar a degradação do rendimento que se verificou nos últimos anos. E se é verdade que a contínua desvalorização do rendimento dos produtores decorre do aumento dos custos de produção, não será menos rigoroso que a deficiente valorização do queijo de S. Jorge, reconhecidamente um produto de excelência, para isso tem contribuído. A desvalorização do queijo de S, Jorge decorre as estratégias de promoção e comercialização da Lactaçor que nem sempre são as mais adequadas à venda deste produto diferenciado e de excelência. Salvo melhor opinião é exigível que a Lactaçor reavalie a sua estratégia comercial, designadamente, para o queijo de S. Jorge envolvendo nessa reflexão os próprios agricultores e as suas associações representativas.

Foto - Aníbal C. Pires
Se a agricultura é importante para a economia jorgense não menos importante é o setor das pescas, desde logo pela importância da conserveira Santa Catarina mas, de igual modo, a exportação de pescado fresco. E também neste setor se levantam enormes preocupações relacionadas com a redução das quotas de goraz e inexistência de alternativas em relação às receitas geradas por este recurso, bem como ausência de quota para atum rabilho para o Arquipélago, que foram impostas pela União Europeia sem fundamentação científica suficiente e que o Governo da República, numa atitude lamentável de subserviência e capitulação, acedeu a mais este ataque aos interesses dos pescadores portugueses, que mais uma vez não soube ou, não quis defender.
O desenvolvimento turístico, a proteção ambiental e do património das fajãs de São Jorge deve tornar-se mais uma componente estratégica da economia da ilha de S. Jorge. Afirmação que não constitui nenhuma novidade, diria até que não passa de um lugar-comum mas, assim sendo, maior legitimidade tem a pergunta, Porquê a demora no início do processo de discussão pública para a elaboração e aprovação do Plano Estratégico de Desenvolvimento das Fajãs de São Jorge. Uma iniciativa aprovada no Parlamento regional e, à qual o Governo regional já deveria ter dado outros desenvolvimentos. A sua aprovação e implementação visa proteger o património histórico, arquitetónico e ambiental das Fajãs de São Jorge, garantindo o reforço da sua capacidade de atracão e aproveitamento produtivo. As Fajãs podem potenciar mais um produto diferenciado e de excelência a somar aos já existentes em S. Jorge. Não percamos mais tempo.

Ponta Delgada, 07 de Junho de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 08 de Junho de 2015

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