segunda-feira, 1 de junho de 2015

Promover a valorização do pescado e incentivar hábitos alimentares saudáveis

Com mais ou menos consciência todos sabemos que apesar de vivermos numa região arquipelágica, com uma vasta linha de costa e uma imensa Zona Económica Exclusiva (até às 100 milhas) grande parte do peixe que consumimos é importado. Algum do peixe chega-nos à mesa vindo do exterior já transformado e congelado. Mesmo colocando de parte o tradicional bacalhau e a sardinha muito do peixe que consumimos vem do exterior. E adquirirmos esse bem alimentar não porque ele seja escasso nas nossas águas, não porque o peixe dos mares dos Açores não tenha qualidade mas pelo preço. Preço mais baixo e que está diretamente relacionado com a qualidade, com a sua origem e com os circuitos de distribuição e comercialização.
E se isto se verifica nas casas das famílias açorianas, verifica-se de uma forma mais acentuada nos refeitórios escolares, os apoios da ação social escolar, sendo importantes são insuficientes para que as Escolas possam incluir, exclusivamente, nas suas refeições peixe da Região. Por outro lado é também do conhecimento público que as pescas são um setor que, em resultado das políticas comuns da União Europeia e da rendição do país a essas imposições, tem vindo a diminuir a sua capacidade de produção. Digamos que não é aceitável que numa Região como os Açores e num País como Portugal tenha de se recorrer à importação de peixe para consumo interno.
O consumo de peixe é uma componente essencial de uma dieta equilibrada e saudável, em especial nas fases iniciais do desenvolvimento do ser humano, um dos hábitos de vida saudável que deve ser ensinado às nossas crianças e jovens, desde as mais tenras idades.
Sendo os Açores uma região produtora de peixe é importante incentivar o conhecimento sobre os benefícios do seu consumo, o que trará vastos benefícios em termos de saúde pública e individual, como para as economias locais das ilhas.
Existem já em diversas ilhas iniciativas, de raiz associativa ou privada, com vista ao escoamento local do pescado, fresco e transformado, que fornecem produtos de altíssima qualidade. No entanto, não lhes é possível competir em termos de preço com o pescado congelado que é comercializado através das grandes cadeias de distribuição, apesar de este por vezes apresentar níveis de qualidade inferiores e representarem produções com muito menor sustentabilidade ambiental.
O incentivo ao consumo local de peixe dos Açores apresenta assim enormes vantagens em termos de saúde, valorização da sustentabilidade ambiental da nossa pesca e dinamização dos circuitos económicos locais, contribuindo também para a valorização do preço do pescado em primeira venda.
As cantinas escolares desempenham um papel essencial na formação dos hábitos alimentares das futuras gerações e, assim, devem fornecer refeições saudáveis e equilibradas e incentivar o consumo dos produtos locais, nomeadamente o de peixe fresco ou transformado localmente, à semelhança do que já acontece com outros produtos alimentares, como por exemplo o leite.
A Representação Parlamentar do PCP apresentou uma iniciativa legislativa que visa a criação de um programa de apoio financeiro às Escolas que integrem nas suas ementas peixe açoriana, fresco ou transformado. Este programa irá trazer grandes benefícios futuros em termos dos hábitos alimentares saudáveis das gerações mais jovens, mas também reflexos positivos na economia das ilhas e no valor do pescado a nível regional.

Ponta Delgada, 31 de Maio de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 01 de Junho de 2015

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