quarta-feira, 10 de junho de 2015

Não é hoje mas todos os dias

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas tem, como é habitual, as suas comemorações anuais. É um dia de celebração para todos os portugueses e, porque é dia das comunidades e do poeta maior da língua portuguesa, os símbolos e evocação da história universalista do povo português são assinalados um pouco por todo Mundo, porque um pouco por todo o Mundo há portugueses ou subsistem as marcas da presença portuguesa.
Pela visão estreita dos poderes instituídos Portugal, não os portugueses, abdicou da sua história e voltou costas ao Mundo onde se afirmou e, Portugal, não os portugueses, optou pela integração na Europa das Comunidades Económicas, aliás não deixa de ser interessante que a anterior designação da atual União Europeia, fosse de comunidades económicas e não comunidade dos povos, se isso não diz tudo desta Europa tem, sem dúvida, uma marca ideológica que diz alguma coisa sobre a selva capitalista onde Portugal se veio a integrar com os resultados que hoje conhecemos. Se é verdade que o país sofreu profundas alterações por conta dos fundos de coesão, não é menos verdade que essas alterações e transformações nos subtraíram a alma, os meios de produção e a soberania e, não há fundos que paguem a perda da identidade e da independência de um povo.
A integração europeia era inevitável, Não. Mas considerando que sim, que era o caminho, o único caminho para Portugal, os seus representantes, tomaram a opção sem consultar os portugueses e o processo de integração foi uma opção política e económica sem exigências e de submissão à vontade do diretório que dominava e domina, agora sem qualquer espécie de máscara e de vergonha, a União Europeia. Portugal não só se submeteu como não soube, ou não quis, salvaguardar a sua universalidade não levando para a mesa das negociações todos os seus ativos, a sua universalidade, a sua história e uma outra comunidade, a comunidade dos que falam e escrevem português.

Gosto deste país a que chamo meu, amo este povo de onde nasci e celebro Portugal e o meu povo, todos os dias. Não gosto de traidores nem de vendilhões e, por isso, vou continuar a celebrar, a lutar e a acreditar que Portugal pode recuperar a sua soberania e que, ao rosto dos portugueses irá regressar a alegria que em Abril de 1974 transbordava no olhar e no sorriso do povo português e que encheu as ruas, avenidas e praças da liberdade.
Os traidores e vendilhões, mais tarde ou mais cedo, terão o destino que foi dado a Miguel de Vasconcelos e, se não se espera que sejam atirados de uma qualquer janela, de um qualquer palácio, espera-se que o a luta popular levada até ao voto os arrede do poder. E este é o momento de preparar a sua saída e, este é o momento de preparar uma alternativa patriótica e de esquerda que afaste do poder absoluto os responsáveis por este período negro da história de Portugal, período que dura há quase tanto tempo como durou, uma outra ditadura, e que tem diferentes protagonistas mas, todos eles unidos na missão de vender a soberania nacional, ou o que resta dela, e bem submissos aos atuais ocupantes externos que promovem em várias línguas as virtualidades dos mercados e a necessidade da sua tranquilidade.

Ponta Delgada, 09 de Junho de 2015

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 10 de Junho de 2015

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