segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A SATA e uma co-piloto (estória de Verão)

Tratando-se, como a epígrafe sugere, de uma mulher por certo esperam que neste registo se encontrem algumas referências aos encantos femininos o que, como é do domínio público, não seria de admirar pois, alguns dos meus escritos lhes são inteiramente dedicados. Mas para não defraudar expetativas vou já adiantando que não, Não foram os atributos femininos, também eles dignos de outros registos, de uma co-piloto da SATA Internacional que me motivaram a contar esta estória.
Num dos regressos da capital à ilha do Arcanjo S. Miguel as condições meteorológicas aconselharam prudência e o voo S4 129, de Lisboa para Ponta Delgada, divergiu para o aeroporto de Santa Maria sem sequer fazer qualquer tentativa de aterragem, disto foram informados os passageiros pelo Comandante que, logo depois das operações de aterragem e parqueamento da aeronave na placa do aeroporto de Santa Maria, voltou de novo ao contato com os passageiros com a informação de que iríamos aguardar algum tempo dentro da aeronave para ver como evoluía a situação meteorológica em Ponta Delgada e da posterior decisão da Coordenação da SATA.
Passados alguns minutos, que nestas situações parecem sempre ser mais do que na realidade são, o Comandante veio de novo ao contato com os passageiros dando autorização para que se procedesse ao desembarque e que o pessoal de terra, mais tarde, daria novas informações. Os fumadores ficaram gratos ao Comandante e a generalidade dos passageiros também pois estar dentro da cabine com o avião no chão não é coisa que agrade a ninguém.
Era uma agradável noite de Domingo e o aeroporto lá foi despertando para acolher as necessidades dos passageiros que, apesar do contratempo, foram aceitando sem reclamações dignas de registo aquela passagem por Santa Maria pois, a maioria de nós, foi-se convencendo que ainda nessa noite chegaríamos ao nosso destino, o que não veio a acontecer.
Não posso precisar o tempo, mas algum foi, quando o pessoal de terra da SATA agrupou os passageiros para informar que o avião iria regressar a Lisboa mas que poderíamos optar por ficar em Santa Maria ou ir para Lisboa sendo que, num caso e noutro, estaria assegurado que no dia seguinte todos os passageiros seriam acomodados em voos para S. Miguel, quer a partir de Lisboa, quer a partir de santa Maria. Tudo teria corrido pelo melhor não fora o facto da esmagadora maioria dos passageiros ter demonstrado que queria ficar em Santa Maria o que, obviamente, era expetável. Um regresso a Lisboa implicava mais 2 horas de voo, era assim como regressar ao início da viagem quando estávamos a 20 minutos de voo da ilha de S. Miguel. Tendo ficado claro que a maioria dos passageiros optava por ficar em Santa Maria. E era Verão, e o festival de Blues tinha terminado no dia anterior. Constatação seguinte não havia alojamentos disponíveis para todos os passageiros a opção da SATA, não do pessoal de terra, não da tripulação, foi, Os passageiros regressam todos a Lisboa. Decisão que, está bom de ver, não agradou à maioria dos passageiros. O desagrado pela decisão fez-se ouvir e a pressão sobre o pessoal de terra aumentou. Mais algum tempo e a decisão voltou a ser a da opção, por ficar em Santa Maria ou regressar a Lisboa, mas que os passageiros, devido à insuficiência de alojamentos, poderiam ter de dividir quartos. Esta condição não agradou mas acabou por ser aceite.
Junto aos balcões de check-in já há algum tempo se encontrava a co-piloto que respondia às perguntas dos passageiros, sempre com a mesma disponibilidade, sempre com um sorriso nos lábios, ainda que algumas das perguntas e reclamações, pelo seu conteúdo, não merecessem resposta e muito menos um sorriso. Mas a co-piloto demonstrando que estava ali para cooperar com os passageiros e com os colegas de terra, aguentou-se firme, a todos respondendo e a todos sorrindo. Acalmados os passageiros a co-piloto continuou na zona dos balcões do check-in anotando a disponibilidade dos passageiros para a partilha de quartos em Santa Maria, bem assim como da vontade de quem preferia regressar a Lisboa. Manteve sempre a mesma disponibilidade, profissionalismo, simpatia e, o sorriso nos lábios, até ao último passageiro. Fui dos últimos passageiros a indicar a minha opção por Santa Maria e da minha disponibilidade em partilhar o alojamento com outro passageiro, o que mais tarde veio a verificar-se não ser necessário. Mas disse-lhe também que tinha admirado a atitude cooperativa e a disponibilidade que demonstrou para com os colegas de terra e para com os passageiros. Hoje partilho esse momento.
Este é um exemplo de entre muitos. O Grupo SATA deve valorizar os seus trabalhadores, primeiro que os seus clientes pois, são eles, os trabalhadores, que fazem com que as empresas do grupo funcionem. Sem os trabalhadores não há clientes.

Ponta Delgada, 18 de Outubro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, Ponta Delgada, 19 de Outubro de 2015

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