segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Letargia política

Áníbal C. Pires (Luxor, Vale dos Reis- 2006)  by Madalena Pires
A agenda política regional parece estar numa fase de dormência, não direi hibernação porque aqui e ali há sinais de alguma atividade. A quadra natalícia que se avizinha pode ser a razão desta quietude que me inquieta, mas não pode justificar, por si mesmo, o entorpecimento político regional reinante, aqui e ali ponteado de alguns sinais vitais.
Quer-me parecer que estamos numa fase de acomodação, sem que acomodar signifique, neste contexto, qualquer coisa como conformismo. Será mais de acomodação à nova geografia parlamentar que parecendo ter tido poucas variações, quando olhamos apenas para a distribuição de mandatos, mas que na realidade sofreu algumas alterações de monta, variações que podem, em parte, justificar alguma inércia nesta fase da vida política regional. Se a este facto aduzirmos que a generalidade dos partidos, com assento parlamentar, limita a sua ação política à intervenção e ao trabalho institucional e, não se realizando, inexplicavelmente, o Plenário de Dezembro temos encontrada, decorrente da conjugação de fatores que identifiquei e de outros que não vislumbro, a justificação para esta letargia que se instalou, espero que transitoriamente, na vida política regional.
Foto - Aníbal C. Pires
Esta constatação não teria relevância e não passaria de um mero e fraco exercício de escrita criativa se alguns dos crónicos problemas com que os Açores e os açorianos se confrontam tivessem, como por milagre eleitoral, resolvidos, O que está longe de vir a acontecer, desde logo, se atendermos ao Programa que o Governo submeteu à aprovação da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.
A coesão, os rendimentos do trabalho, a saúde, a educação, a economia regional, o mercado interno, a pobreza, a exclusão, as dependências, os transportes marítimos, aéreos e terrestres, onde é que está o Plano Integrado de Transportes (PIT), a crise na pesca e na agricultura, as dificuldades na indústria transformadora, a necessário diversificação e aumento da produção regional, a formação profissional de ativos, os impactos ambientais, as políticas de gestão de resíduos, nada disto é disfarçável com os resultados positivos do turismo.
A lista de questões enumeradas que urgem por resposta justifica uma atitude mais ativa sob pena do Governo regional e o PS continuarem politicamente impunes, aguardando que uma conjuntura, nacional e internacional favorável, o tempo e a continuada emigração solucionem o que, no uso das competências autonómicas, os órgãos de governo próprio deveriam resolver.
Nem tudo depende de nós, tenho disso consciência. As limitações impostas pelas diretivas europeias e pela aplicação das políticas comuns cerceiam a autonomia, retiram-nos competências e determinam modelos sociais e económicos que não se adequam à nossa geografia. Mas alguma coisa, ainda, depende de nós, assim sendo usem-se as competências autonómicas que nos restam para melhorar a vida do Povo açoriano.
Ponta Delgada, 11 de Dezembro de 2016

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 12 de Dezembro de 2016

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