terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Aleppo

Imagem retirada da Internet
É imperativo ir para além da espuma mediática e contaminada dos tweets e da informação das corporações mediáticas referenciadas como ocidentais, onde incluo as portuguesas. Sim, as portuguesas, porque estamos a ocidente de qualquer lugar a oriente, embora estejamos a oriente de um qualquer lugar que nos esteja a ocidente, mas não somos o centro do planeta como nos poderá parecer quando olhamos o planisfério, Há outros pontos de vista, desde logo o dos povos que foram, e são, subjugados pelos interesses “ocidentais”.
A informação circula à velocidade de um clique e o seu acesso está mais ou menos generalizado, diria que no que concerne às televisões e às rádios que há muito está massificado. Não haverá, a não ser por opção própria, quem no Ocidente não tenha a acesso à informação áudio e/ou audiovisual, o que não significa que se esteja bem informado, pois os critérios editoriais, essa vaca sagrada, as leis do mercado e os interesses obscuros conformam a informação, ou seja, nem sempre, ou melhor, quase nunca, a informação que nos vendem é rigorosa, direi até que muita da informação veiculada pelas corporações mediáticas nem sequer corresponde à realidade dos factos, É informação manipulada para moldar a opinião pública. Só assim se entende que a generalidade dos cidadãos ocidentais, sejam do Norte ou do Sul, ou estejam a Oriente, tenham como bom que as “Torres Gémeas” colapsaram devido ao embate dos aviões e aos incêndios que se lhe seguiram, Claro que não. Nem havia armas de destruição massiva no Iraque, Pois não.

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Mas não é da tragédia do 11 de Setembro que se trata, ou talvez seja, afinal o Afeganistão, o Iraque e tudo o que se seguiu, passando pela Líbia e posteriormente pela Síria tem a sua génese nesse evento. Mas é justamente pela Síria, mais precisamente sobre os recentes desenvolvimentos, que pretendo deixar algumas reflexões face à intoxicação da opinião pública que foi promovida na última semana.
Sobre a Síria a sua economia, os aspetos sociais, culturais, religiosos e políticos, sobre a sua história, antes da deflagração do conflito promovido do exterior, como se sabe, pode encontrar-se muita informação quer na net, quer em diferentes obras e brochuras conforme queiram mergulhar no saber ou, simplesmente, ficar à superfície boiando no conhecimento sobre aquele país soberano.
Aleppo a cidade Síria ocupada por grupos terroristas, que passarei a designar apenas por Daesh pois é disso que se trata, seja lá o que isso for. Não sendo a capital do país, como sabem é Damasco, Aleppo antes da ocupação pelo Daesh era uma cidade cosmopolita muito procurada como destino turístico, a cidade velha de Aleppo foi declarada, pela UNESCO, Património da Humanidade, em 1986. Aleppo era uma cidade onde se respirava paz e tranquilidade e onde não existiam quaisquer sinais de conflitos religiosos, ou não fosse a Síria um Estado laico, tal como era o Iraque, e onde imperava a convivência pacífica entre as diferentes comunidades religiosas.
A Síria é dos poucos países do Mundo e o único país árabe sem dívidas ao FMI, as mulheres têm os mesmos direitos constitucionais que os homens, a exploração de petróleo é do domínio público, poderia continuar a lista e até integrar outros motivos bem objetivos, como o interesse na construção “do gasoduto árabe” pela Arábia Saudita e seus aliados, ou lembrar que a Síria é o único país da bacia do Mediterrâneo fora da área de influência da NATO e tem uma forte ligação com a Rússia. Os motivos do apoio externo a uma suposta revolta de grupos da oposição síria são muitos e diversos e interessam sobretudo aos Estados Unidos e aos seus aliados, Arábia Saudita, Israel, (veja-se só), Turquia, Inglaterra, França e as monarquias do Golfo e têm como fim último atingir o Irão e isolar a Rússia, aliás a construção do “gasoduto árabe” mais não pretende do que acabar com o fornecimento de gás natural da Rússia à Europa.
Hoje é reconhecido que a “Primavera Árabe”, foi um inferno e de árabe só teve mercenários e fundamentalistas a soldo dos aliados europeus e árabes dos Estados Unidos. Depois da Líbia, onde pela primeira vez soldados da NATO lutaram no terreno ao lado, da então, Al-Qaeda, seguiu-se a Síria para onde migraram, via Turquia, os mercenários que colaboraram com o assassinato de Kadafi e com a destruição da Líbia. A Síria, só para recordar, está na famosa lista de países do “eixo do mal” feita durante o consulado de Bush júnior.

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A estratégia da coligação liderada pelos Estados Unidos que na Síria, desde o início do conflito, combateu o Daesh, obteve os resultados que todos conhecemos, O Daesh fortaleceu-se e ocupou cidades e território sírio, aliás cumprindo o objetivo inicial desta espúria coligação que pretende derrubar um governo legítimo. Legítimo sim, lembro que em 2014 houve eleições na Síria, eleições tão democráticas e livres como as que elegeram Donald Trump, ou Barack Obama.
A demonstração, aos olhos da comunidade internacional, de que a ineficácia do combate ao Daesh, pela coligação liderada pelos Estados Unidos, era uma falácia acontece com a entrada da Rússia no conflito. Se a Rússia tem interesses na região, Claro que sim, desde logo de defesa, para além de interesses de ordem económica.
Com o apoio da Rússia as forças armadas sírias foram reconquistando território e cidades e nos últimos dias tomaram o controlo de Aleppo, que esteve ocupada pelos terroristas durante vários anos, afinal trata-se de repor a legalidade, eis senão quando se levantam as vozes dos “ocidentais” ativistas de sofá em resposta a apelos finais divulgados na net e  fabricados, de entre outros, pelos “Capacetes Brancos”, organização sedeada em Coventry, Inglaterra, e financiada a partir dos Estados Unidos.
Os sírios manifestam nas ruas a sua satisfação pela tomada de Aleppo, não serão todos naturalmente, e os “ocidentais” condenam a libertação da cidade.
Fica muito por compreender e muito mais por explicar, como por exemplo a detenção num bunker em Aleppo, pelas forças especiais sírias, de mais de 20 oficiais NATO, de várias nacionalidades, O que faziam ali. Combatiam o terrorismo ou estavam ao lado dos jihadistas.
Ponta Delgada, 18 de Dezembro de 2016

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 19 de Dezembro de 2016

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