quarta-feira, 18 de maio de 2022

Cognitive Warfare (guerra cognitiva)

Aníbal C. Pires by Paulo R. Cabral

Sou bem-humorado e, como todos, ou quase todos, os bem-dispostos sou um otimista. Bem sei, para a generalidade dos cidadãos, os que se recordam da minha intervenção pública, não será bem esta a imagem que têm de mim, mas quem priva comigo pode testemunhar a meu favor e confirmar que assim é. 

Ser otimista e bem-humorado não é sinónimo de ser, ou estar na vida de forma leviana e irresponsável. Conciliar o humor e o otimismo com a verticalidade, a responsabilidade e a participação cidadã, tem sido, é, e continuará a ser a minha forma de estar na vida. Uma vez mais conto com as pessoas que comigo privam, não são muitas, mas constituem uma amostra qualitativa da qual me orgulho, para o confirmar.

O leitor estará perplexo com o que acabou de ler. Tem razão, mas eu também. Tudo tem uma razão até os parágrafos anteriores como se procurará demonstrar.

Sendo, como disse, uma pessoa otimista e bem-humorada estou com algumas dificuldades em continuar a sê-lo. O mundo, ao qual geograficamente pertenço, está num processo de negação dos valores civilizacionais que eu julgava estarem consolidados. 

As instituições da União Europeia e os governos dos estados-membros estão a destruir o que restava dos princípios e valores “europeus” construídos no pós II Guerra Mundial e a arrastarem os seus povos para uma crise social, económica e política sem precedentes.

Não posso dizer que me surpreende, pois, os sinais da regressão há muito se manifestavam sob as mais diversas formas, mas fui mantendo sempre uma chama de esperança. A chama não se extinguiu, mas a energia para a manter viva começa a escassear. 

imagem retirada da internet

O que já chegou ao fim foi a paciência para compactuar com o revisionismo histórico e com o processo de estupidificação em curso. Não se entenda esta afirmação como uma declaração de rendição, não é. O que está a acontecer é uma mudança na minha atitude tolerante e conciliadora ou para que não subsistam dúvidas, estou a radicalizar-me. O que significa, tão somente, que vou procurar a raiz dos problemas, denunciá-los e combatê-los. Já o fazia antes, agora é tempo de radicalizar o discurso.

O termo radical tem sido injustamente diabolizado, pois, ser radical é estar bem enraizado nos princípios, nos valores. E eu estou, cada vez mais, radicalmente comprometido com o direito dos povos à liberdade e à diferença, radicalmente comprometido na luta contra a uniformização dos costumes e do pensamento. 

As tentativas de manipular e induzir ilusões são antigas e foram-se aprimorando, dos procedimentos dos primórdios da propaganda, aperfeiçoada por Goebbels, passando pela “guerra psicológica”, aqui entendida como um conjunto de técnicas usadas para influenciar, sem o uso da força, os valores, crenças, emoções, motivações e raciocínio, que pretende induzir mudança de comportamento numa população alvo, até à “guerra híbrida” que agrega um conjunto de variáveis, como sejam, a guerra convencional, a ciberguerra, a diplomacia, lawfare (manobras jurídico-legais), desinformação, fake news, false flags, ou a moderna “guerra cognitiva” que vai mais além do condicionamento do que pensamos, o objetivo é mais ousado a “guerra cognitiva” pretende alterar a forma como pensamos. A população alvo da “guerra cognitiva” é todo o capital humano de uma nação, ou nações, podemos até generalizar dizendo que somos todos nós. O objetivo é claro, a manipulação e o domínio sobre o pensamento. Nada que não esteja já em marcha, mas que pode evoluir para níveis de eficácia preocupantes. E tudo isto com o avale dos países da União Europeia.

imagem retirada da internet

O leitor quando entrou nesta “Sala de Espera” não estaria à espera destas divagações e, se aqui chegou, já estará a pensar que eu tenho assistido a muitos filmes de ficção científica e que agora estou a desenvolver uma qualquer teoria da conspiração. Asseguro-lhe que não. O conceito de “guerra cognitiva” ou, “cognitive warfare”, e o seu desenvolvimento pode ser encontrado no estudo de François du Clouzel, militar retirado de origem francesa. O estudo publicado e tornado público em 2020 é claro nos objetivos, nos meios a utilizar, nos alvos e, esta será a novidade, introduz um sexto domínio de guerra, o domínio humano. Talvez não seja uma novidade, o que há de novo é a assunção de que o objetivo da “guerra cognitiva” visa alterar a forma como pensamos, o que significa elevar o condicionamento do pensamento para um patamar superior.

Caro frequentador da “Sala de Espera”, julgo que estão justificados os primeiros parágrafos deste texto, como fundamentado está o meu descrédito nas instituições da União Europeia e nos governos dos estados-membros. Na “guerra cognitiva” seremos alvos, mas também soldados armados com os nossos telemóveis inteligentes ampliando realidades paralelas. Ou já o estaremos a fazer!!?? 

Ponta Delgada, 17 de maio de 2022

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 18 de maio de 2022

1 comentário:

Emilio Antunes Rodrigues disse...

É o admirável mundo novo De Aldus Huxlei elevado à décima potência, é o regresso ao rebanho dos primeiros hominídeos, é a destruição completa do pensar humanamente