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Fiz este exercício para afastar qualquer tentação de abordar o deplorável espetáculo da Sala Oval, mas não está fácil, aliás se esta oposição for quebrada e não resistir não será sobre o desempenho de qualquer dos três protagonistas do espetáculo que farei apreciações, a avaliação é sempre subjetiva, eu, por exemplo, considero que o óscar de melhor atriz deveria ter sido atribuído à Fernanda Torres, mas a Academia nem sempre faz as suas escolhas tendo em consideração a excelência dos desempenhos. Por outro lado, a moção de censura não tendo ainda acontecido já serviu para clarificar quem é quem na oposição ao governo do PSD/CDS, pouco mais haverá a dizer depois de se ouvir o deputado António Filipe e perceber todo o rodopio que se gerou, dentro do governo da República e em toda a teia de interesses que gira à sua volta.
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Quanto ao PRISC muito se poderá dizer, mas passadas que são as primeiras páginas cedo se percebe que o governo regional não pretende resolver esta pesada herança, que remonta aos primórdios do povoamento, que o fascismo português perpetuou e que a autonomia constitucional ainda não resolveu: a pobreza e a exclusão.
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Aqui chegado e tendo já referido a lista, ainda que parcial, de assuntos sobre os quais poderia partilhar opinião com os visitantes da Sala de Espera estou num dilema. Aprofundo algumas das questões que já abordei ou deixo de contrariar o impulso e vou até à Sala Oval, não para fazer apreciações sobre os atores pois, isso é acessório, mas para tentar entender quais as causas e, sobretudo, os efeitos dali vão resultar. Vamos lá, mesmo tendo consciência dos riscos que vou correr por não surfar a onda do mainstream.
Aos cidadãos que, legitimamente se insurgiram contra aquele triste espetáculo, diria que talvez não fosse má ideia visionar tudo. Está disponível no Youtube e dura 50mn, a minha sugestão, vale o que vale, está alicerçada no facto de que, apenas alguns fragmentos foram amplamente divulgados o que induz opiniões naturalmente parciais, em função do que nos foi dado ver, mas como disse esta sugestão vale o que vale e pode valer muito pouco para quem já alicerçou um posicionamento e, por outro lado, como já referi, procurei olhar para as causas, mas para o caso em análise relevante são mesmo os efeitos já produzidos e os que se seguirão. O que vai suceder agora, ou melhor, o que é que já sucedeu e poderá vir a suceder.
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Quando percebi que o circo montado iria ter o desfecho que teve fiquei surpreendido. Donald Trump pode ser malformado e boçal, mas tem por detrás dele interesses os quais não pode, pura e simplesmente, deixar as mãos a abanar, como seja o complexo militar industrial estado-unidense que não sendo só é uma parte importante da economia federal. Por outro lado, a paz não é para o presidente dos Estados Unidos uma prioridade, embora no caso do conflito russo-ucraniano ele se tenha comprometido durante a campanha eleitoral a intervir e a encontrar uma solução para alcançar a paz, tudo o que fez até à reunião com Zelensky foi para consumo interno, mas também para pressionar a União Europeia a aumentar os gastos com a defesa e as contribuições para a OTAN, também decorrente dos compromissos da campanha eleitoral com os eleitores estado-unidenses. Ainda antes de avançar para os efeitos provocados pelo espetáculo da Sala Oval quero justificar a afirmação de que o atual Presidente dos Estados Unidos, à semelhança dos seus antecessores, não é um homem de paz e a humanidade é uma caraterística que não lhe pode ser atribuída. Apesar dos aparentes esforços de paz para o fim do conflito russo-ucraniano, se outros exemplos não existissem chegaria a Palestina e a genocida agressão do estado sionista que é, como sabemos, apoiada pelos Estados Unidos, antes e agora com Trump, como se comprova com a assinatura, no passado sábado de uma Declaração de Emergência para agilizar o processo, não necessita de autorização do Congresso, de transferência de mais uma ajuda militar ao estado sionista de cerca de 4mil milhões de dólares. Quanto a humanidade e paz, julgo que estamos conversados, a Casa Branca não lida bem com esses valores.
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Os ecos do fracasso negocial entre Trump e Zelensky fizeram-se ouvir pela União Europeia e também pela Inglaterra. No dia seguinte Zelensky foi recebido, em Londres, por Keir Starmer, primeiro-ministro inglês, que convocou, para o dia seguinte, parte dos líderes dos países da União Europeia, não se conhece qual o critério e alguns países que ficaram de fora, não tendo, por isso, ficado, muito agradados. Estiveram presentes, também, o primeiro-ministro da Canadá e o ministro dos negócios estrangeiros da Turquia, para além, naturalmente, do secretário-geral da OTAN. Da reunião na capital inglesa foi dado conhecimento público que tinha sido estabelecido um plano para continuar a apoiar Ucrânia que seria levado aos Estados Unidos, interessante, por outro lado ficou claro que a União Europeia, na cimeira de 6 de março, iria dar início a procedimentos para se rearmar, muito interessante. Vejamos, a Inglaterra e a União Europeia não abdicam da bênção dos Estados Unidos, por outro lado, o rearmamento da União Europeia terá, certamente, como principal fornecedor o complexo militar industrial estado-unidense. Não gostando do que vou afirmar, mas tenho de o reconhecer: Donald Trump ganhou, para já, esta ronda, mantém o domínio sobre a União Europeia, diminui os gastos próprios com o apoio militar à Ucrânia e abriu, mais mercado, para a venda de equipamento militar para rearmar os países da UE que se comprometeram em Londres a aumentar os seus orçamentos para defesa, embora não faltem aos Estados Unidos outros clientes.
As empresas europeias que se dedicam ao fabrico de equipamento militar viram a sua cotação aumentar nas bolsas de valor. Enfim! A UE continua a ter uma atitude servil e, como é de esperar, ao aumento da despesa coma defesa/guerra irá corresponder uma diminuição do investimento nos setores sociais, aliás como o secretário-geral da OTAN andava, já há algum tempo, a sugerir. Esta, como outras, é uma guerra que nada tem a ver com os povos, mas também como acontece sempre, são os povos que sofrem e pagam.
Ponta Delgada, 4 de março de 2025
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