Uma das medidas propostas no programa eleitoral do PS, a fazer fé na comunicação social pois ainda não conheço a versão oficial, é que o Estado deposite 200 euros numa conta-poupança em nome de cada bebé que vier a nascer.
Quando dei conta ocorreu-me o rol de promessas feitas pelo mesmo PS na campanha eleitoral de 2005. Promessas, ao que me lembre, por cumprir pelo menos as mais emblemáticas e populares. Promessas que associadas ao grande descontentamento e contestação social das políticas do governo do PSD/CDS, de então, garantiram a maioria absoluta a Sócrates e uma ampla votação à esquerda, num claro sinal de que a maioria dos eleitores queriam um novo rumo para Portugal. Os portugueses sentiram-se atraiçoados e demonstraram-no ao longo dos últimos anos enchendo as ruas e as praças deste país dizendo bem alto aquilo que pensam de José Sócrates. É hora de levar o descontentamento até ao voto e dotar o país de um novo quadro parlamentar equilibrado que potencie o diálogo democrático e que impeça o absolutismo.
Mas voltando aos 200 euros com que o PS quer ofertar os bebés através da abertura de uma conta-poupança que o titular ao atingir a maioridade poderá aceder. Pois bem! Não fosse um valor residual (na vizinha Espanha são 2500 euros) e até poderia dar o benefício da dúvida, sob reserva, a esta proposta. Reserva porque a medida, à semelhança de outras, parece-me mais dirigida à banca do que propriamente às famílias ou aos jovens -daqui a 18 anos.
Do que se trata afinal é a de entregar anualmente à banca 20,5 milhões de euros (considerando o número de nados vivos em 2007). Valor de que a banca vai dispor durante 18 anos. Um bom negócio para a banca pois, para as famílias e para os jovens o valor que encontrarão ao fim de 18 anos (segundo a DECO) será de 252 euros. Talvez dê para financiar o jantar de aniversário. Isto se entretanto o banco depositário deste valioso pecúlio não tiver tido o destino do BPN e do BPP.
O incentivo à natalidade, o apoio às famílias e aos jovens passa, também, por incentivos financeiros mas não é, seguramente, nem o único, nem sequer o melhor caminho para se atingirem níveis de natalidade que contrariem a actual tendência de envelhecimento da população, ou de apoio às famílias, nem de políticas de juventude.
Para que servem 200 euros prometidos a prazo quando este PS, e não outro, penaliza as mães com horários de trabalho prolongados, salários de miséria e o espectro do desemprego a cada gravidez.
Para que servem 200 euros prometidos a prazo quando este PS, e não outro, martiriza as educadoras e professoras com um modelo de avaliação anacrónico em que uma licença de maternidade as pode impedir de obter uma avaliação de Muito Bom ou Excelente.
Este é o PS que não aumentava os impostos, que criaria 150 mil novos postos de trabalho este é o mesmo PS que agora acena às famílias com 200 euros por cada novo filho e à banca com uma “injecção” anual de mais de 20 milhões de euros. Porque será que estou com a estranha sensação de que, tal como em 2005, o PS está a preparar-se para fazer duas campanhas distintas, uma para o povo e outra para o capital.
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, Ponta Delgada, 07 de Agosto de 2009
Quando dei conta ocorreu-me o rol de promessas feitas pelo mesmo PS na campanha eleitoral de 2005. Promessas, ao que me lembre, por cumprir pelo menos as mais emblemáticas e populares. Promessas que associadas ao grande descontentamento e contestação social das políticas do governo do PSD/CDS, de então, garantiram a maioria absoluta a Sócrates e uma ampla votação à esquerda, num claro sinal de que a maioria dos eleitores queriam um novo rumo para Portugal. Os portugueses sentiram-se atraiçoados e demonstraram-no ao longo dos últimos anos enchendo as ruas e as praças deste país dizendo bem alto aquilo que pensam de José Sócrates. É hora de levar o descontentamento até ao voto e dotar o país de um novo quadro parlamentar equilibrado que potencie o diálogo democrático e que impeça o absolutismo.
Mas voltando aos 200 euros com que o PS quer ofertar os bebés através da abertura de uma conta-poupança que o titular ao atingir a maioridade poderá aceder. Pois bem! Não fosse um valor residual (na vizinha Espanha são 2500 euros) e até poderia dar o benefício da dúvida, sob reserva, a esta proposta. Reserva porque a medida, à semelhança de outras, parece-me mais dirigida à banca do que propriamente às famílias ou aos jovens -daqui a 18 anos.
Do que se trata afinal é a de entregar anualmente à banca 20,5 milhões de euros (considerando o número de nados vivos em 2007). Valor de que a banca vai dispor durante 18 anos. Um bom negócio para a banca pois, para as famílias e para os jovens o valor que encontrarão ao fim de 18 anos (segundo a DECO) será de 252 euros. Talvez dê para financiar o jantar de aniversário. Isto se entretanto o banco depositário deste valioso pecúlio não tiver tido o destino do BPN e do BPP.
O incentivo à natalidade, o apoio às famílias e aos jovens passa, também, por incentivos financeiros mas não é, seguramente, nem o único, nem sequer o melhor caminho para se atingirem níveis de natalidade que contrariem a actual tendência de envelhecimento da população, ou de apoio às famílias, nem de políticas de juventude.
Para que servem 200 euros prometidos a prazo quando este PS, e não outro, penaliza as mães com horários de trabalho prolongados, salários de miséria e o espectro do desemprego a cada gravidez.
Para que servem 200 euros prometidos a prazo quando este PS, e não outro, martiriza as educadoras e professoras com um modelo de avaliação anacrónico em que uma licença de maternidade as pode impedir de obter uma avaliação de Muito Bom ou Excelente.
Este é o PS que não aumentava os impostos, que criaria 150 mil novos postos de trabalho este é o mesmo PS que agora acena às famílias com 200 euros por cada novo filho e à banca com uma “injecção” anual de mais de 20 milhões de euros. Porque será que estou com a estranha sensação de que, tal como em 2005, o PS está a preparar-se para fazer duas campanhas distintas, uma para o povo e outra para o capital.
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, Ponta Delgada, 07 de Agosto de 2009
1 comentário:
"Não há pior analfabeto que o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. O analfabeto político é tão burro que se orgulha de o ser e, de peito feito, diz que detesta a política. Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância política é que nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, desonesto, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
Bertolt Brecht (1898-1956)
Beijinhos.
margarida
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