segunda-feira, 26 de março de 2012

A política do empobrecimento

No exato dia em que milhares de trabalhadores, por todo o país e também expressivamente nos Açores se manifestaram, por via da adesão à Greve Geral convocada pela CGTP, pela exigência de uma política diferente para o nosso país e para a nossa Região, discutiu-se na Assembleia Legislativa dos Açores uma petição que exigia o aumento do acréscimo ao salário mínimo regional de 5 para 7,5%.
Esta exigência, já colocada pela Representação Parlamentar do PCP em Outubro de 2011, visava repor o valor do salário mínimo regional num valor idêntico ao que o governo do PS de Sócrates anuiu em sede de Concertação Social, acordo que passado algum tempo “rasgou” e, do qual o atual governo do PSD/CDS nem quer ouvir falar. O PCP Açores retomará a proposta assim que regimentalmente seja possível assumindo a pretensão dos peticionários, aliás aguardo que os trabalhadores da administração pública regional tomem iniciativa no sentido de exigirem o pagamento do subsídio de férias e de Natal que lhes vai ser roubado em 2012.
Já o repeti inúmeras: - a economia portuguesa terá, e tem, muitos problemas, mas salários alto de mais não são de certeza um deles! Em 2011os custos do trabalho na Europa a 27 (subiu 2,8) em Portugal os custos do trabalho desceram 1,7%.
Portugal tem dos mais baixos salários a nível europeu. O mesmo se passa com o Salário Mínimo, no qual Portugal está verdadeiramente na cauda da Europa, apenas ultrapassando algum dos países da Europa de leste e a Turquia.
 Mas se a generalidade dos trabalhadores portugueses ganham salários baixos, bem atrás do comum dos trabalhadores portugueses, vêm os trabalhadores açorianos, que recebem em média menos 100 Euros por mês. É um fato conhecido que, na nossa Região, a abrangência do salário mínimo é enorme, mercê das baixas qualificações mas, sobretudo, de uma continuada política de baixos salários.
A crise que atravessamos nos Açores, o aumento brutal do desemprego, os encerramentos de empresas, demonstram que não pagar às pessoas, não pôr dinheiro na mão das famílias acaba necessariamente por ter custos, custos elevados que os açorianos e as empresas açorianas estão a pagar. Aliás, na passada semana o grupo INSCO, ligado aos supermercados Continente, anunciou o despedimento de 40 trabalhadores nos Açores. Este é o preço que pagamos! Este é o custo da desvalorização do poder de compra das famílias! Mas não nos ficaremos por aqui se não houver uma rutura com um modelo que funda a competitividade da economia nos baixos salários e no empobrecimento das famílias.
Houve, nos Açores, ao longo dos últimos anos um aumento da produtividade e da riqueza gerada, como expresso na percentagem do PIB per capita nacional. Ainda bem, Folgo com o facto. O que não é aceitável é que esse aumento de riqueza não reverta também para os trabalhadores açorianos!
A responsabilidade direta pelos baixos salários nos Açores é do PS Açores com a cumplicidade ativa do PSD e do CDS. Os partidos do centrão e o seu apêndice reconhecem a injustiça mas ficam-se pelo reconhecimento. É muito pouco para quem se arroga como alternativa.
Ponta Delgada, 25 de março de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 26 de março de 2012, Ponta Delgada

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