quarta-feira, 21 de março de 2012

Rendimento e desemprego

Ao olharmos para a taxa trimestral do desemprego, ao longo do último ano, sem dificuldade nos apercebermos que a taxa de desemprego nos Açores aumentou sempre mais do que a média nacional e, nalguns trimestres, mais do que em qualquer outra Região de Portugal. Chegámos mesmo à situação – nada caricata, diria mesmo triste e dramática de, no segundo trimestre de 2011, o desemprego se ter reduzido marginalmente em todas as regiões do país, exceto nos Açores, onde cresceu 0,2%, de acordo com dados do INE.
Para explicar isto não basta tentar chutar as responsabilidades para o monstro e de costas largas da crise internacional. A crise tem, certamente, alguma influência mas não explica tudo.
Os números do desemprego e da recessão económica são a demonstração inegável do falhanço absoluto das políticas de coesão e de desenvolvimento do Governo do PS Açores agravadas por opções políticas do governo de Passos Coelho e Paulo Portas centradas na consolidação orçamental sem que paralelamente se tomem medidas que promovam o crescimento da economia nacional!
Se, nos Açores, como em qualquer outro lado, justapusermos as curvas do desemprego e do poder de compra médio, veremos que são simétricas e inversas. A relação direta entre o consumo e o emprego pode ser facilmente encontrada em qualquer manual básico de economia, mas comprova-se com muito mais acuidade e precisão na realidade económica das ilhas do Açores.
É nessa resposta, aí, nessa confluência geométrica de duas curvas, que são muito mais do que matemáticas, que se encontra a chave do drama que atinge quase 20 mil desempregados, ou serão já mais de 20 mil as açorianas e açorianos desempregados!?
Se perguntarmos aos comerciantes e aos empresários o que é que a continuada desvalorização dos salários tem feito às suas vendas, então podemos constatar, de facto, que não se trata apenas de uma leitura meramente teórica. O nível do consumo retraiu-se quase em simultâneo com a aplicação das medidas de austeridade, cortes salariais e aumento dos impostos e, as perspetivas de criação de emprego ou, mesmo de manter o existente não existe, aliás o encerramento de empresas e as insolvências são notícias do dia-a-dia.
O combate ao desemprego e o apoio às empresas necessita a prazo de medidas estruturais que tornem a economia regional menos permeável a conjunturas externas desfavoráveis e de medidas conjunturais que estimulem o consumo e o dinamismo económico, ou seja, ao invés do que tem vindo a ser praticado com a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores e continuada perda de rendimento das famílias.
E foi nesta esteira de cortes nos rendimentos que o Governo Regional veio deitar mais achas para esta fogueira, imitando fielmente o pior das políticas do PS, PSD e CDS-PP na República, e contribuindo direta e indiretamente para a redução do rendimento disponível dos açorianos e para o aumento do desemprego na Região!
Veja-se a presteza e obediência com que o Governo do PS cumpre as metas de reduções de pessoal. Olhe-se para a velocidade com que se importaram as taxas moderadoras.
E, mais recentemente, a ânsia com que o Governo do PS Açores, efusivamente apoiado pelo PSD Açores e pelo CDS/PP Açores, decidiu imitar a subtileza troglodita do Governo de Passos Coelho e roubar, diretamente e sem mais conversa, os subsídios de férias e de natal dos funcionários públicos, diluindo esta receita no orçamento da Região para utilizações pouco claras.
Ponta Delgada, 20 de março de 2012
Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 21 de março de 2012, Angra do Heroísmo

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