segunda-feira, 19 de março de 2012

Tripolarização

Para além das divergências ideológicas que me separam de Paulo Portas não me custa reconhecer-lhe grandes qualidades, como seja o de ser um “animal mediático” dos melhores. O ministro do governo que nos roubou o subsídio de férias e de Natal é, sem dúvida, um grande comunicador – só diz o que quer, quando quer e, sem dúvida, nos momentos mais oportunos. E isto, mais do que o seu projeto político, tem-lhe valido a liderança do CDS/PP e a ascensão a diversos governos.
Paulo Portas, o itinerante ministro, veio este fim-de-semana aos Açores dizer que as eleições regionais de 2012 não são disputadas por 2, mas sim por 3 partidos, ou seja, em contraponto à bipolarização o ministro oferece mais uma hipótese aos eleitores açorianos e introduz o conceito da tripolarização contando, certamente, com a cumplicidade de quem coloca a disputa eleitoral no plano das candidaturas a Presidente do Governo Regional.
Os eleitores saberão dar a resposta a Paulo Portas elegendo deputados, não de 2, nem de 3, mas de vários partidos e coligações criando, assim, condições para que as soluções parlamentares de apoio ou rejeição a soluções governativas possam ser diversas, conforme o número de deputados eleitos por cada um dos partidos que concorrerem às regionais de 2012. Porque é disto que, de facto, se trata nas eleições que lá para Outubro acontecerão. Trata-se da eleição de deputados e não do Presidente do Governo Regional. Colocar a discussão política e a disputa eleitoral no plano de 2 ou 3 partidos é enganar os eleitores e artificialmente tentar reduzir a democracia representativa ao centrão e ao seu apêndice.
Com a estratégia da tripolarização que Paulo Portas veio introduzir nos Açores não tarda, teremos aí o líder do CDS/PP Açores como putativo candidato a Vice-presidente ou Secretário Regional das Relações Exteriores de um qualquer governo regional, não se importando com quem o presida desde que se possa sentar à mesa.
O esforço de Artur Lima e de Paulo Portas para não ficarem manchados com as políticas do governo do PSD de Passos Coelho é digno de registo e admiração. O pululante Paulo Portas anda por aí no exercício da chamada “diplomacia económica” para ver se não dão conta dele e das promessas que fez aos eleitores, só espero mesmo é que um dia destes ele não nos apareça por aí com mais alguns submarinos.
Quanto a Artur Lima não tendo projeto, ou melhor tem, é o projeto do poder pelo poder, quer seja Berta ou Vasco, entretém-se a encenar casos políticos que depois transforma em novelas sem fim à vista mas, com um objetivo bem preciso – evitar que o povo açoriano perceba que o Governo de Portugal resultou de um entendimento entre o PSD e o CDS/PP e, por conseguinte, as responsabilidades pelo drama do desemprego, do aumento dos impostos e dos cortes nos rendimentos do trabalho são, do PSD e do CDS/PP.
O Povo Açoriano saberá, na altura certa, recusar qualquer hipótese de clonagem, nos Açores, da maioria de direita que governa o País e que, serviçalmente serve os oligopólios financeiros representados politicamente pelo diretório da União Europeia a que dão rosto a dupla franco-alemã, também conhecida por “casal” Merkozy.
Horta, 18 de março de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 19 de março de 2012, Ponta Delgada 

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