quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A pedra Maia


Estamos cada vez mais próximos daquela data mítica que um povo da América Central – ao que parece davam pelo nome de Maias – determinou, já lá vão uns anitos, como sendo o fim do Mundo ou, pelo menos, assim foram interpretadas até há bem pouco tempo, isto porque, explicações mais recentes atribuem outros significados às inscrições na famosa pedra em que os Maias esculpiram um complexo calendário, 
O certo é que o dia 21 de Dezembro está a ser alvo de um interesse incomum e, sobre o tema se programam diversas atividades. Cá por mim farei o que sempre fiz, por estes dias acontece o Solstício de Inverno no hemisfério Norte. Por aí me fico a celebrar o início de um novo ciclo da vida. Celebrar o Sol e tudo aquilo que representa para a vida na Terra. Assim o fazem os homens desde sempre.
Mas, voltando ao fim do Mundo eu diria que, o Mundo tal como o conhecemos na Europa ou, se preferirem no denominado Ocidente, está a chegar ao fim. Não direi que acabou que se finou mas, este o Mundo das nossas representações está moribundo.
O sentimento que a nossa sociedade, tal como a construímos num complexo e árduo processo de evolução social, está a definhar e sofre um processo de mutação começa a ser comum e preocupa-nos. 
Partilho, obviamente, da preocupação comum mas preocupo-me muito mais com a resignação e a subserviência que se instala nos cidadãos perante a terapia prescrita para salvar o nosso Mundo. O procedimento não é novo, o medicamento é bem antigo e, apesar de toda a evolução científica e tecnológica o princípio ativo não sofreu nenhuma alteração. O FMI está para a desvalorização do trabalho e dos trabalhadores, como o ácido acetilsalicílico está para a aspirina, são indissociáveis e imutáveis.
Sei que a rutura com o paradigma capitalista a que nos fomos habituando não é uma ideia confortável. Quem não receia as ruturas!? Mas, pensando bem! Como é que se pode designar o processo político, económico e financeiro que se vive em Portugal, na Europa e no Mundo Ocidental senão como uma rutura. Rutura com o Estado Social. E, quando há uma rutura com um modelo um outro se instala.
Neste caso está a instalar-se, em definitivo, a denominada “crise”, aliás este vocábulo faz parte do léxico quotidiano dos portugueses há vários anos, diria mesmo décadas. Julgo ser tempo de começar a chamar as coisas pelos nomes: a isto não se chama crise, chama-se capitalismo num estado próximo da sua pureza. É este modelo selvagem de organização social, económico e financeiro das sociedades que se está a instalar no nosso Mundo.
Ponta Delgada, 18 de Dezembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 19 de Dezembro de 2012, Angra do Heroímo

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