| Foto by Aníbal C. Pires |
De pretextos se fazem escolhas ou, à falta de melhor justificação se arranjam os subterfúgios para furar a rotina e o sedentarismo. A semana passada foi a pretexto da exposição de trabalhos de um velho amigo e colega de profissão, que me libertei das grilhetas do tempo para ir ao encontro dele. Esta semana foi com a justificação de uma atividade de ar livre, assim como uma espécie de caça ao tesouro dos tempos do “GPS”, que fui até à Ferraria.
Para quem nunca visitou ou, porventura nunca tenha ouvido falar direi que, segundo o sítio da internet do Geoparque Açores, a Ferraria ou Ponta da Ferraria: “é uma fajã lávica formada por escoadas lávicas basálticas emitidas do cone de escórias do Pico das Camarinhas, há 870 anos. Entre as diversas estruturas vulcânicas deste geossítio, são de referir: o cone litoral (ou pseudocratera), a nascente termal submarina de 62º C e xenólitos ultramáficos.”
Para mim que sou leigo nestas matérias da geologia e da vulcanologia direi apenas que a Ferraria é uma linda e singular fajã na costa sudoeste da ilha de S. Miguel onde, quer no Verão quer no Inverno, vale a pena ir e estar durante algumas horas.
E foi assim que fiz. Hoje, fui à Ferraria e por ali fiquei algumas horas enquanto os meus companheiros de viagem (filho e esposa) foram à descoberta do tesouro no Pico das Camarinhas que, como já devem ter percebido, fica sobranceiro à dita Ponta da Ferraria. Não deixa de ser importante referir que o estado do tempo era, segundo a meteorologia, vento forte de Sudoeste, aguaceiros e ondulação de Oeste com 6m, ou seja, o tempo estava, em todos os seus parâmetros, invernoso. E assim era, ou pior!
À Ferraria tinha ido por várias vezes com outras condições meteorológicas, aliás como fazem a maior parte dos cidadãos que, normalmente, a procuram para banhos de mar, atividade que hoje era impraticável devido à forte ondulação que se fazia sentir. Ainda assim, e porque na Ferraria funcionam umas termas, sempre por lá encontrei quem se banhasse, não no enfurecido Atlântico, mas numa piscina anexa ao complexo termal que ali funciona.
| Foto by Aníbal C. Pires |
O furor dos elementos dava ao local uma ambiência dantescamente bela. O negrume da lava contrastava com a alvura da espuma salgada que se elevava no ar a cada investida do mar. O vento e a chuva fustigavam-me a face, a ondulação arremetia violentamente na costa, como se o mar quisesse conquistar um espaço outrora seu.
Tudo procurei registar em imagens, sons e palavras que aqui e noutros suportes de comunicação vou tentar reproduzir. Mas porque, Tudo não é obra para um homem só e, quiçá, porque cada homem é único, nada como descer o escarpado e sinuoso acesso à Ponta da Ferraria e deixar que os sentidos se entranhem do encanto e da fabulosa magnitude daquela singular fajã lávica.
Ponta Delgada, 16 de Dezembro de 2012
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 17 de Dezembro de 2012, Ponta Delgada
Sem comentários:
Enviar um comentário