quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O dia que prometia azul entristeceu

Foto - Aníbal C. Pires
Está chegada a noite de um dia em que amanheci ainda o Sol não se tinha levantado no horizonte. Era apenas mais um dia. Ainda que este fosse o primeiro dia do último mês do ano. Era apenas mais um dia de partida com destino diferente donde ontem regressei. O destino é conhecido mas ainda e sempre aliciante e o dia prometia azul no mar e no céu.
Já na ilha que hoje foi meu destino, Terceira, não de ordem mas de nome, e ainda manhã do dia em que Portugal comemora a restauração da independência nacional, recebi a notícia, Oh camarada é para te informar que o Luís Bruno morreu esta noite. Sabia que o Luís estava doente, sabia da gravidade da sua enfermidade, sei que a vida um dia termina, sabia e sei tudo isso mas, nem por isso deixei de sentir o meu coração a entristecer e o meu pensamento a viajar ao encontro do Luís, ao encontro dos momentos e lutas que com ele partilhei.
Depois daquele telefonema que anunciou a partida do Luís o dia, que prometia azul, turvou-se. Cumpri o calendário que estava previsto, fiz o que tinha de fazer e só agora houve tempo para me reconciliar com o tempo, tempo sempre tão escasso.
O Luís ausentou-se sem termos concretizado aquele jantar que tínhamos agendado. Jantar que se destinava a concluir uma conversa iniciada nos idos anos 80 da centúria anterior. Pois é faz tempo, tanto tempo. Mas o tempo faltou para estar com o Luís mais tempo, não pela interminável conversa, mas pelo tempo que gostava de compartilhar com o Luís.

Foto - Madalena Pires
Quem privou com o Luís sabe que ele tinha tempo para todos os que o procuravam. Essa seria, talvez, a marca da sua generosidade. Uma incomensurável disponibilidade para tudo e para com todos. Sinto-me vulgar aos escrever estas palavras, não que tenha outras pretensões para além a de querer ser um comum cidadão mas, porque o Luís não está aqui. Não vai ler, não vai ouvir, e eu não tenho assim tanta certeza de que lhe tenha dito o quanto o admirava e respeitava, o quanto gostava dele, o quanto gostaria de continuar a nossa infindável conversa.
Este dia que prometia azul e assinala, por ser o primeiro dia de Dezembro, um outro dia primeiro de Dezembro do ano de 1640 também azul, também vermelho de luta contra a ocupação espanhola, também vermelho da luta de libertação e restauração da independência nacional, acinzentou-se com a tua partida.
Os dias voltarão a ser daquele azul, serão de novo e sempre vermelhos da luta que também era tua. Mas hoje Luís, hoje não foi, hoje não é. Hoje o dia que amanheceu azul cedo obscureceu os nossos corações.
Até sempre camarada Luís Bruno.

Angra do Heroísmo, 01 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 03 de Dezembro de 2014

1 comentário:

Maria Margarida Silva disse...

A saudade e a tristeza são realidades que nos acompanham, ao longo da nossa vida. A partida de alguém que amamos rasga-nos o peito e abre um vazio que nunca mais será preenchido.
Há sempre algo que ficou por dizer, momentos por partilhar...
Restam as memórias...
"A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam." Vergílio Ferreira
Um abraço.
Margarida