segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Venham também

Foto - Madalena Pires
Se foi bom, Poderia ter sido mas não foi. Se me refiro ao ano que agora finda, sim é disso que falo. Não foi bom para mim, e tenho cá para mim que não foi bom para a generalidade dos habitantes do planeta. Mas aconteceram tantas coisas boas ao longo do ano, É verdade aconteceram e poderia até enunciar, sem grande esforço, um alargado conjunto de factos conhecidos e, até outros tantos menos conhecidos que sobejavam para poder fazer uma outra apreciação de 2014. Mas não vale a pena iludir-me e muito menos contribuir para alimentar a cultura do menos mau que induz a inércia e a resignação. Não estou para isso, não estou para alimentar ilusões. Ludibriar é um papel que cabe bem à comunicação social de referência e, para fantasias e entorpecimento coletivo já chegam os programas de entretenimento que povoam as manhãs e tardes televisivas, o futebol televisionado dentro e fora do retângulo, os reality shows, os concursos e outros sucedâneos.
Se desisti, Não. Não desisti. Mas este ano, estes anos passados produziram um estranho efeito em mim. Estou mais tolerante mas também mais determinado. Se é da idade, Não direi que não. A passagem do tempo vai deixando as suas marcas e eu já tenho no meu saldo um boa conta de aniversários de nascimento. Conheço-me hoje melhor e isso deve-se aos anos já vividos, é uma vantagem da idade.
Estou mais tolerante e racional, raras vezes reajo intempestivamente e penso refletidamente no que digo ou escrevo. Procuro sempre entender porquê compreendo as razões de cada um e não julgo ninguém, esse é um papel que não me cabe a mim.
Estou mais determinado porque continuo a acreditar, e não é uma questão de fé. Acredito que mais tarde ou mais cedo terão de acontecer profundas alterações sociais, económicas e políticas e estou determinado a continuar a lutar por elas, ainda que ao meu redor encontre uma enorme mole de resignados, outros tantos assumidos serventuários de um poder podre, inúmeros ativistas de sofá e, muitos outros a identificar os efeitos, a mobilizar vontades, muitas vontades, descurando a génese dos problemas que enfrentamos e sem projeto político alternativo. São os inorgânicos, estão na moda geram muita simpatia mas são inconsequentes e permeáveis ao poder oculto dos donos do Mundo. Quantas e quantas vezes não passam de meras válvulas de escape para o descontentamento social e político.
Podem, poder podem contribuir para mobilizar descontentamentos e dar contributos para a tão desejada transformação que não pode, como está comprovado, ancorar-se no reformismo. Isso seria mais do mesmo que temos tido com os resultados que todos conhecemos. Podemos, poder podemos e devemos transformar revolucionando, rompendo e apresentando alternativas políticas que não podem resumir-se à mera substituição dos atuais protagonistas, como me parece ser o caso de movimentos sociais e políticos que por aí proliferam como os cogumelos no Outono. Os exemplos são muitos e conhecidos que nem vale a pena referenciá-los nominalmente.
Reconheço a sua importância e não a menosprezo, todavia tenho dúvidas, muitas dúvidas que possam ser estes os agentes da transformação social, económica e política pela qual ansiamos.
Daqui a dias, é já depois de amanhã, entramos num novo ano. Ano sobre o qual não tenho grandes expetativas, embora seja expetável devido a fatores objetivos e menos objetivos, que o próximo seja melhor que os anteriores. Mas melhor é pouco, só ficarei satisfeito se for muito melhor. Quero-o para mim e quero-o para todos e vou lutar por isso. Venham também.
Votos de um excelente 2015.

Ponta Delgada, 28 de Dezembro de 2014

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 29 de Dezembro de 2014

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