quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Bailinhos e outros carnavais

Foto - Ana Loura
O Carnaval já lá vai. Não sendo esta uma crónica sobre as diferentes manifestações carnavalescas não posso, contudo, deixar de registar que na Região esta é uma data que marca o calendário das festas açorianas. Em todas as ilhas se promovem iniciativas que visam assinalar o “adeus à carne”, ou seja, os dias que precedem a entrada num período de abstinência. As formas de comemorar o carnaval são diversas mas nos Açores, é na ilha Terceira, que as festividades do “adeus à carne” têm uma expressão que torna o Carnaval diferente, talvez até único no Mundo português. O teatro popular sob a forma dos “Bailinhos” envolve todos os terceirenses. Desde a conceção dos textos mais ou menos satíricos, à música, à coreografia e aos trajes, o carnaval terceirense mobiliza centenas ou mesmo milhares de pessoas e animam a economia da ilha. Depois, Bem depois é todo um povo que se mobiliza à volta de uma manifestação cultural de matriz popular que importa preservar, sem que preservação seja aqui sinónimo de cristalização. Renovo o desafio, Para quando os “Bailinhos” como património cultural imaterial da humanidade.
O calendário religioso diz-nos que agora se segue um período de privação e castidade, a Quaresma. O calendário comercial anuncia o “Dia dos Namorados”, ou de S. Valentim. Não deixa de ser paradoxal que, num país em que temos um santo casamenteiro, Santo António, se tenha adotado o dia de S. Valentim para comemorar o amor. Certamente são coisas do progresso e da evolução social que hoje, por ser dia de Carnaval, não vou discutir. Cá por mim, não por ser conservador mas porque foi neste dia que iniciei um duradouro namoro, comemoro o dia dos namorados na quinta-feira da “Ascensão”, conhecido pelo dia da “Espiga” lá pelas terras onde nasci e fui criado, e se tem o pagão hábito de ir aos campos colher um ramo de flores silvestres e uma espiga de trigo. Os tempos mudam, escasseia o tempo e o ramo do “Dia da Espiga” já se comercializa no espaço urbano, evitando assim uma incómoda ida ao campo.
Os tempos mudam, escasseia o tempo. Mas não faltam palavras que ninguém lê, ninguém ouve, Bem se for um sound bite ainda vá que não vá, agora um texto ou palavras ditas por alguém que não se fica pelo acessório e vai ao essencial, isso não. Para quê perder tempo se ele é escasso e temos quem leia e oiça por nós e depois regurgite uma síntese. Afinal estamos ou não no tempo do fast tudo. Este é um assunto que parecendo, e é, recorrente nos textos que escrevo e partilho traz subjacente uma preocupação que não sendo apenas minha, também o é. A minha atividade profissional e também política exige-me que saiba comunicar. Avaliam-me, objetiva e subjetivamente, pela forma como comunico. Se comunicar bem tenho alunos motivados e com aprendizagens realizadas, se comunicar bem posso valorizar eleitoralmente o meu Partido. E eu concordo, Como poderia não concordar com esta evidência.
A exposição a que estou sujeito, enquanto professor, dirigente partidário e deputado, leva a que seja “aconselhado” sobre a arte de comunicar, pedem-me que não seja tão palavroso, que não faça tantos parenteses e que diga apenas, e só, o que os meus públicos querem ouvir. Pedem-me muito parecendo pouco, Eu tento mas, como explicar apenas com um sound bite que a Comissão Europeia não tem competência para aprovar a proposta de Orçamento do Estado português, que essa competência só a tem, em exclusivo, a Assembleia da República. Não é fácil.
Ponta Delgada, 09 de Fevereiro de 2016

Aníbal C. Pires, In Diário Insular e Açores 9, 11 de Fevereiro de 2016

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