segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Tempo e chá de cidreira

Foto - Madalena Pires
Esteve por aí fazendo e dizendo como se fosse o que já não é nem voltará a ser e, digo eu, ainda bem. Veio aos Açores reafirmar que se deve a ele a liberalização do espaço aéreo e as vantagens, segundo ele e muitos outros indefetíveis alaranjados ou não, dessa liberalização. Não disse quanto custou e custa, direta e indiretamente, ao erário público essa “revolução” no mercado aéreo para os Açores, perdoem-me o lapso, para S. Miguel, pois, pois, têm razão também para Terceira, embora não se note. Não disse quanto custa assim como não disse muitas outras coisas. Esqueceu, obliterou, muitas decisões que, para o líder nacional do PSD, serão talvez de somenos importância mas cujos impactos nos custarão ainda mais, aliás algumas das decisões omitidas no discurso do homem já tiveram os seus impactos negativos. Durante o seu consulado e com as eleições à vista repôs o diferencial fiscal de 30% na Lei das Finanças Regionais mas não repôs o valor das transferências do Orçamento de Estado para a Região.
A personagem que por aí andou a fazer e a dizer como se fosse o que já não é nem voltará a ser e, digo eu, ainda bem. Veio aos Açores e foi recebido pelos seus acólitos e apaniguados como se ainda fosse o que já não é, mas que eles, e ele em particular, gostariam que fosse. Só que as eleições de 4 de Outubro que, como todas as outras daquela natureza, se destinavam a eleger deputados e não governos, nem primeiros-ministros, ditaram-lhes o fim. Custou a compreender a muitos cidadãos eleitores e, perdoem-me os outros, os não eleitores, não os tomar em consideração nestas cogitações mas como não votaram, não contam para estas contas, mas como dizia custou a compreender que a maioria dos deputados é que determina quem forma Governo e, quiseram os eleitores dar um sinal diferente. Sinal que os partidos, digamos, da esquerda souberam interpretar e arriaram do poder, digo eu, a direita revanchista que se preparava para continuar empobrecer o país e a generalidade dos portugueses.
A incompreensão genuína foi, e ainda é, conscientemente alimentada pelos acólitos e apaniguados da coligação de direita aos quais a comunicação social continua a dar ampla cobertura. Talvez porque, a comunicação social, necessite de manter a mentira que tão bem promoveu e alimentou ao longo dos anos reduzindo o ato eleitoral para a Assembleia da República a uma suposta eleição do primeiro-ministro.

Foto - Madalena Pires
Quanto aos acólitos e apaniguados estão a fazer o seu papel, Percebo mas não aceito. Mas não é tanto a distorção que estes introduzem nas análises que me provoca alguma náusea, o que verdadeiramente é revoltante é a negação do funcionamento, em toda a sua plenitude, da democracia.
O azedume espera-se, vai passar com o tempo e com chá de cidreira. O tempo tudo cura e o chá não faz mal a ninguém, ajuda nas digestões difíceis e diminui a acidez.
Ponta Delgada, 28 de Fevereiro de 2016

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 29 de Fevereiro de 2016

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