segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Com e sem D

Foto by Aníbal C. Pires
Em ano de eleições autárquicas as lutas partidárias pelo poder, ainda que seja no mais remoto rincão, assumem estranhos contornos. Para além das candidaturas que se desenrolam, naturalmente, dentro das estruturas partidárias, são as coligações anti natura, são os projetos de poder pessoal, são os independentes em rota de colisão com o partido que sempre serviram, mas que agora deixou de os servir, e é Álvaro Dâmaso em Ponta Delgada que, diria, pela peculiaridade desta candidatura não se enquadra no padrão, nem Ponta Delgada é um qualquer lugar remoto. Álvaro Dâmaso não é, como se sabe, um independente e, como tal, algum interesse partidário servirá, não acrescentei ideológico porque isso seria uma redundância e se, por vezes, o pleonasmo é importante neste caso é dispensável.
Não se trata de um projeto pessoal, embora se pretenda que pareça, e não é um projeto pessoal porque a candidatura Álvaro Dâmaso vem servir interesses políticos que por não serem claros serão, de momento, inconfessáveis. Álvaro Dâmaso é apenas um peão, consciente, mas ainda assim não deixa de ser um peão de um jogo disputado no tabuleiro de outros poderes que não o tabuleiro do Poder Local.

Foto by Madalena Pires
Estamos em pleno Carnaval e nesta época do ano tudo nos é permitido, ou quase tudo, mas não é de uma brincadeira que se trata. Trata-se de uma leitura política, aceitável como qualquer outra, da candidatura de um homem só, mas que tem a marca do PS e do PSD disso não me restam grandes dúvidas basta atentar ao que está em jogo e aos efeitos político eleitorais que pode provocar. Claro que os interesses da cidade e do concelho de Ponta Delgada, neste tabuleiro, estão secundarizados. E logo agora que tão necessário seria ter um executivo camarário e uma Assembleia Municipal plurais e sem maiorias absolutas. As vantagens são óbvias e o momento, como disse, assim o exige.
A requalificação urbana e um plano de incentivos para a fixação de habitantes no centro histórico, que melhor medida de apoio ao comércio tradicional e para as nossas empresas de construção civil do que este, um planeamento que modernize preservando a alma da cidade, promover a coesão territorial apostando em novas centralidades, quer a Ocidente quer a Norte. Outras questões de ordem social, económica, urbanística, ambiental e cultural necessitam de ser olhadas de diferentes pontos de vista, e não será pelo olhar de Álvaro Dâmaso que se podem esperar outras opções, outras e diferentes soluções.
Ponta Delgada cidade e concelho confrontam-se com problemas de crescimento para os quais é necessário encontrar soluções alicerçadas em modelos de desenvolvimento sustentável, sob pena de passada crista da onda em curso mergulharmos numa profunda depressão. Não é com o PSD ou com o PS, sozinhos ou a dominar em absoluto, que temos garantia de que a cidade e o conselho possam crescer de forma harmoniosa e sustentável, sustento esta opinião com o presente e o passado dos dois partidos cuja diferença é o D que um tem no acrónimo e outro não tem.  
Ponta Delgada, 26 de Fevereiro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 27 de Fevereiro de 2017

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