segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Um novo momento português(*)

Imagem retirada da internet
Mário Centeno, o atual ministro das finanças, ao que consta reúne condições e apoios para poder vir a assumir a presidência do Eurogrupo. Depois de algumas críticas mais ou menos veladas, das quais a mais caricata terá sido a desse grande político, e agora comentador, que dá pelo nome de Marques Mendes, mas isso é apenas um pormenor de somenos importância, a unanimidade, ao centro, está instalada e mesmo Marques Mendes já considera que sim, que é bom para o próprio e prestigiante para o país. Mas é pena, diz ainda o agora comentador, pois com a sua eventual saída prevêem-se efeitos erosivos no seio da dita “geringonça”. Mas que chatice.
O coro está afinado. É bom para o próprio e prestigiante para Portugal, dizem-nos. Pois que seja. Já assistimos a outros momentos, não muito distantes, de exaltação nacional com a ascensão de alguns portugueses a altos cargos no estrangeiro. Nunca me entusiasmei nem fiquei embebido de sentimentos patrióticos por tais acontecimentos, prefiro homenagear os emigrantes anónimos espalhados pelo Mundo, esses sim são motivo de orgulho e têm toda a minha admiração.
Em Julho de 2004 numa crónica, a que dei o título “O momento português”, referi-me à irrelevância, para Portugal, de ter Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia. Se foi bom para o próprio, Sem dúvida. Se foi bom ou prestigiante para Portugal, Não me parece, a não ser o facto de ter deixado de ser o primeiro ministro de um governo de má memória. Durão Barroso é atualmente o presidente do Banco Goldman Sachs International, e isto sim terá algum significado.
Um outro “momento português” que, como o anterior, também uniu o coro do centro político nacional foi a nomeação, em 2010, de Vítor Constâncio para Vice-governador do Banco Central Europeu(BCE). Também sobre esse “momento português” escrevi e publiquei um texto, em Fevereiro de 2010, no qual tornava clara a minha posição de alheamento face ao contentamento generalizado da nomeação do então Governador do Banco de Portugal para a vice-presidência do BCE, tendo-lhe sido atribuídas responsabilidades pelas áreas de investigação e de supervisão e estabilidade financeira dos mercados dando corpo à ideia, da Comissão Europeia, de reforço e vigilância do sector financeiro e bancário com o objetivo de prevenir novas crises, Pois.
Neste caso nem a sua saída do cargo que ocupava, apesar das responsabilidades de Vítor Constâncio no caso do BCP, do BPN e do BPP, me mereceu nenhum registo de satisfação.
Vítor Constâncio tinha uma vasta experiência ancorada no erro e na sua grande capacidade de prever quando a realidade já estava instalada, por conseguinte, reunia as melhores condições para assumir o papel de marioneta ao serviço dos interesses da alta finança europeia e mundial. E assim tem sido, nem mais nem menos. Se foi bom para o próprio, Sem dúvida. Se foi bom e prestigiante para Portugal, Não me parece.

Imagem retirada da internet
Ainda antes de voltar a Mário Centeno não posso deixar de referir um outro “momento português”. A eleição, em Outubro de 2016, de António Guterres para Secretário-geral da Organização das Nações Unidas(ONU), instituição onde já tinha tido exercido o cargo de Alto Comissário para os Refugiados, entre 2005 e 2015. Neste caso não posso dizer, com segurança, que me tenha sido de todo indiferente e, ainda que sem entusiasmos desmedidos, confesso que esse “momento português” me deixou moderadamente satisfeito. Não tanto pela personalidade em si mesma, que não adianta nem atrasa, mas pelo facto de se tratar da ONU, instituição à qual ainda reconheço alguma relevância no diálogo e na concertação mundial.
Quanto a Mário Centeno e à sua hipotética ida para a presidência do Eurogrupo direi que me é indiferente e não alinho com o habitual coro de satisfação perante mais este “momento português”. Se vai ou não ser prestigiante e bom para Portugal, Não me parece. Se vai ser bom para o próprio, Sem dúvida.
Há quem me diga que face ao desempenho económico e financeiro de Portugal, ao qual Mário Centeno não terá sido alheio, a União Europeia estaria à procura de uma resolução para por, de novo, este pequeno país do Sul periférico nos carris das políticas de austeridade. A resolução terá sido tomada considerando as caraterísticas dos portugueses, assim o diretório da União Europeia concluiu que a melhor forma de o conseguir seria colocar na presidência do Eurogrupo um português.
O parágrafo anterior mais não é do que a tradução de uma conversa de café entre dois amigos a brincar com coisas sérias. Que ideia mais estapafúrdia a deste meu amigo. Vejam só, um português na presidência do Eurogrupo para colocar Portugal nos eixos. Ele há coisas do arco-da-velha.
Ponta Delgada, 03 de Dezembro de 2017

Aníbal C. Pires, In Azores Digital, 04 de Dezembro de 2017

(*) Mário Centeno foi hoje eleito para a presidência do Eurogrupo  

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