sábado, 3 de novembro de 2018

Do Verão do meu (des)contentamento - crónicas radiofónicas


Foto by Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2018)


Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 18 de Agosto de 2018 e pode ser ouvida aqui





Do Verão do meu (des)contentamento

Aníbal C. Pires by João Pires 
Não sei que lhe diga, mas este Verão ando perdido. Não sou capaz de me agendar e quando procuro o que me pode dar alguma satisfação encontro sempre, ou quase sempre, um ruído perturbador.
Não fico, não estou. Recuso este estado de festa e de animação permanentes.  Retiro-me para o meu canto e aguardo pacientemente o fim deste Verão. Sei que para o ano tudo se vai repetir, talvez até densificar. Assim, e tendo consciência de que eu é que estou do lado errado, vou ter tempo para me preparar para o embate do próximo Verão. Para o ano já serei capaz de estar numa esplanada e, em simultâneo, ouvir a música que me chega das que rodeiam a que escolhi, exatamente, por não a ter. 
Temo que este tema não lhe interesse patavina, logo a si que gosta tanto do Verão e da animação da estação. Mas vou arriscar, tenho um certo apetite por andar no fio da navalha.
Se não gosto do Verão, Então não gosto. E gosto particularmente do Verão nos Açores. Seja em S. Miguel, ou em qualquer outra das ilhas açorianas. As temperaturas amenas e quase a tocarem-se, a mínima e a máxima, a do ar e a do mar. Os passeios por paisagens deslumbrantes de azul e verde, ou pelos espaços urbanos que nos contam estórias do passado. Sim do passado, mas também do presente em que se desenha o futuro próximo. Gosto de algumas estórias, de outras nem tanto assim. Ah a Calheta de Pêro de Teive o que foi, o que é, como irá ser e como poderia ter sido.
Mas voltemos às dificuldades por que estou a passar este Verão. Pode-lhe ter parecido que não consegui, sem me inquietar, encontrar lugares para fruir o Verão tal como gosto, Não. Se assim o entendeu induzi-lhe uma ideia errada.

Foto by Aníbal C. Pires (S. Miguel, 2018)
Fui ao Planalto dos Graminhais e daí ao Pico da Vara, num daqueles dias cinzentos de Julho, e o passeio foi muito agradável. A ausência de ruído permitiu-nos a observação de Priolos e de outras espécies de aves mais comuns. E quando as neblinas o permitiam estendíamos o olhar pelas vertentes Sul da Tronqueira que se espraiam até às caraterísticas Lombas da Povoação.
Sim, não estava só e cruzei-me ao longo do percurso com outras pessoas que não produziam mais do que os sons de um cumprimento fugaz e dos passos no caminho.
Este é apenas um exemplo pois, ainda há por aí muitos outros trilhos onde é possível desfrutar da paisagem sem nos cruzarmos com viaturas motorizadas que introduzem uma imagem negativa a quem procura e vai continuar a procurar, quero crer que sim, os Açores como um santuário natural, mas esta é uma outra questão que hoje vamos deixar de lado.
Sim é importante, também acho que sim e julgo que mais tarde ou mais cedo será necessária alguma intervenção que regule a circulação de veículos em alguns dos trilhos. Isto não pode continuar ao deus dará.
Haja coragem dos poderes públicos locais e regionais para encontrar soluções adequadas às caraterísticas deste destino, por enquanto, eivado de uma singularidade que é a garantia da sua sustentabilidade.
É sempre um prazer estar consigo.
Fique bem.
Cá por mim conto voltar ao seu convívio no próximo sábado. Até lá.

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 18 de Agosto de 2018

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