sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

programa do XIII governo – educação para “inglês ver” (parte 2/3)

foto by Madalena Pires
(continuação)

Vejamos agora mais três novidades curriculares, também no âmbito da promoção do sucesso.

“(…)

• introduzir o ensino de tecnologias de informação e comunicação desde o 1º ano de escolaridade;

• garantir a oferta de uma segunda língua estrangeira como complemento escolar, de frequência facultativa, no primeiro Ciclo do Ensino Básico e como oferta curricular de escola no segundo ciclo;

• promover, a título experimental e voluntário, o ensino bilingue, em português e inglês, no sistema educativo açoriano; (…)”

As tecnologias de informação e comunicação (TIC) devem fazer parte da formação geral dos cidadãos, julgo que estaremos de acordo. Mas qual será a vantagem desta introdução precoce na matriz curricular, ou seja, logo no 1º ciclo!? Mais tempos curriculares, mais tempos no espaço formal de sala de aula. Se há alguma coisa que os alunos do 1.º ciclo necessitam não será, por certo, mais carga horária formal. Mais tempo na Escola sim, mas em atividades lúdicas que favoreçam a aprendizagem das áreas curriculares estruturantes.

foto by Aníbal C. Pires
Mas como leram não é só. O governo PSD/CDS/PPM propõe-se, ainda que com caráter facultativo, promover a iniciação a uma segunda língua estrangeira no 1.º ciclo (atualmente existe oferta e frequência obrigatória de Inglês).  A oferta de uma segunda língua estrangeira no 1.º ciclo, à semelhança da introdução das TIC, corresponde a uma sobrecarga curricular que, salvo melhor opinião, irá prejudicar outras aprendizagens básicas, mas fundamentais para que o percurso escolar dos alunos tenha sucesso. Por outro lado, a aparente liberdade associada à oferta facultativa no 1.º ciclo terá como efeito a marginalização dos alunos que não aderirem a esta oferta educativa.

Não nego a importância, bem pelo contrário valorizo um currículo que contemple o ensino de línguas estrangeiras, mas é óbvio que mais importante será a aprendizagem e o domínio da língua materna. Como é do conhecimento público o sucesso educativo na Região e no País está aquém do aceitável e uma das razões, possivelmente a que mais contribui para insucesso escolar, é a fraca competência, da generalidade dos alunos, nos diferentes domínios da língua materna. Não é possível aprender conteúdos e conceitos da Matemática, da Biologia, da Física, da Química, da História, ou do que quer que seja, sem saber ler, escrever e falar corretamente português.

imagem retirada da internet
Estas duas propostas parecendo importantes e inovadoras demonstram, desde logo, uma visão deturpada do que deve ser o currículo no ensino básico e vão-se constituir como um forte contributo para a desvalorização da já depauperada condição da língua portuguesa.


A obrigatoriedade de frequência no 2.º ciclo contribuirá, como já afirmei para o 1.º ciclo, a uma sobrecarga horária desnecessária e perniciosa. O esforço devia centrar-se em atividades que favoreçam a aprendizagem da língua materna, não com mais horas curriculares, mas com atividades didáticas fora do formalismo da sala de aula.

imagem retirada da internet



Enfim são opções que carecem de melhor esclarecimento, mas que, para já, só as posso classificar como mais uma inutilidade.



(continua)

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 11 de Dezembro de 2020


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