Por estes dias, num qualquer espaço comercial, numa qualquer cidade, quando junto com a minha companheira usufruía do sossego do fim de tarde, sentaram-se comigo três “teen-agers”: um rapaz e duas raparigas. O João, meu filho mais novo, mediou a apresentação. Estavam por ali a matar o tempo que faltava para o início de uma actividade desportiva que ia decorrer ao princípio da noite. Passados os primeiros instantes, não resisti à inevitável pergunta:
- Então, meninas, o que querem ser quando forem grandes?
- Boa…! - Respondeu prontamente uma delas enquanto a outra soltava uma saudável gargalhada.
- Como!? - Retorqui, atónito com a resposta
- Boa pergunta. - Disse a jovem, esclarecendo.
- Ah! Percebo. Ainda não tomastes decisões para o futuro.
- Sim! É isso. - Confirmou a Ana, já com a face levemente rosada.
- Eu quero fazer medicina. - Disse a bem disposta Maria, rindo ainda da pronta mas inusitada resposta da colega.
Depois deste breve diálogo sobre o qual ainda se produziram algumas gargalhadas, face à insólita e espontânea mas incompleta “Boa…!”, fiquei a reflectir sobre as expectativas e dificuldades desta geração.
Geração nada e criada num tempo de exacerbada competitividade e com referências algo desvirtuadas por estereótipos de sucesso construído em imagens dum Mundo, em que o êxito está associado à capacidade de consumo, aos corpos esbeltos, ao parecer, ao ter… Mais do que ser, é importante possuir e, sobretudo, induzir sugestões de pertença ao Mundo dos individualmente bem sucedidos.
A competição pelo sucesso individual, suposto caminho para o bem-estar e qualidade de vida, deixa muitas vítimas pelo caminho e põe em causa o conforto e qualidade de vida que deve ser de todos, não apenas de alguns. Em última instância, o que está em causa é a própria sobrevivência da espécie.
A tendência imediata é a de responsabilizarmos directamente os jovens. Mas será que não foi sempre assim!? Quando jovem, ouvia os mais velhos dizerem: “ (…) no meu tempo não era nada disto (…) ”. É bem possível que também os meus pais ouvissem aos seus serem-lhes atribuídos comportamentos menos correctos e se especulasse sobre a capacidade de se tornarem adultos realizados e responsáveis. Não tenho dúvidas que sempre assim foi. Mas esse é o caminho simplista de quem não entende que os comportamentos (dos jovens e dos adultos) são condicionados por factores que vão muito para além da imaturidade e despreocupação que caracteriza os jovens humanos.
A raiz, não a quadrada mas a génese do problema, é extrínseca à condição de se ser ou não jovem.
A raiz é de ordem cultural e de domínio.
A promoção do individualismo e a atomização, ao invés de nos tornar diferentes e mais fortes, deixa-nos fragilizados no igualitarismo dos comportamentos. Ou seja, facilmente domináveis.
A libertação só tem um caminho: a aquisição de informação, de saberes e a elevação cultural.
Ponta Delgada, 05 de Janeiro de 2008
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