quarta-feira, 12 de março de 2008

A surpresa e a não surpresa


Sem constituir uma surpresa, o Secretário Regional da Educação e Ciência ficou surpreendido com os protestos dos educadores e professores nos Açores e, bem ao seu estilo, disse no dia 7 de Março que só compreendia os protestos de indignação dos docentes açorianos como um acto de solidariedade para com os seus colegas do continente.
Mas, para que não houvesse dúvidas, visto que Álamo Menezes não tinha percebido, no passado sábado, duas centenas e meia de educadores e professores voltaram a descer às ruas do centro histórico de Ponta Delgada e, desta vez, não se ficaram pelo silêncio e o agitar de lenços brancos. Pelo contrário, foram bem explícitos: “Está na hora, está na hora do Secretário ir embora”! Bem audível e sem margem para dúvidas. “Respeito! Respeito! Foi com esta exigência que os educadores e professores terminaram a concentração que veio a demonstrar, inequivocamente, que os protestos eram dirigidos ao Secretário Regional da Educação e Ciência, às políticas educativas regionais e à forma como este membro do governo regional exerce o poder.
Se Álamo Menezes ficou surpreendido é porque anda mal informado sobre o pulsar da Escolas. Será que o Conselho Coordenador do Ensino Público não lhe leva ao conhecimento que os educadores e professores estão descontentes!? Será que Álamo Menezes julga que compra a dignidade pessoal e profissional dos docentes com o “rebuçado” da carreira única!?
O Secretário, sendo um cidadão a quem se reconhecem qualidades, desta vez não soube ler os sinais. O Estatuto da Carreira Docente, na Região, não é o Estatuto dos professores, nem dos dirigentes sindicais, nem dos sindicatos. O documento que a maioria acrítica que suporta o governo aprovou na ALRAA é o Estatuto da Secretaria, é o Estatuto do governo regional, não é o Estatuto da Carreira Docente que os professores e os seus sindicatos desejam e propõem! Ser diferente não é sinónimo de ser adequado ou de satisfazer as necessidades e os anseios dos educadores e professores e, sobretudo, que essas diferenças contribuam para a melhoria da qualidade do ensino público e do desempenho da actividade docente.
Francamente, senhor Secretário! Não seja redutor nem demagógico, na sua análise aos protestos dos educadores e professores açorianos. A questão não é só o Estatuto mas tudo aquilo que tem vindo a ser feito e a forma como tem sido feito pela administração educativa na Região. Os docentes estão a dizer-lhe: - Basta! Já chega! Já não engana ninguém! Retire-se e respeite os profissionais da educação!
Surpreendentemente, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues não se surpreendeu com a manifestação de 100 mil professores que se concentraram e manifestaram em Lisboa exigindo a alteração das políticas educativas do governo de José Sócrates. Quando se fizeram manifestações de 25 mil professores, a Senhora Dona Maria de Lurdes Rodrigues nem sequer deu conta! Agora, era difícil esconder tanto professor e calar tantas vozes.
Mas mesmo assim, a senhora não se surpreendeu. O que será necessário para surpreender esta tétrica figura que na vida nada mais fez do que produzir algumas publicações, de entre outros estudos, sobre a temática da função social dos engenheiros? Isto é pelo menos o que consta do seu currículo de professora e investigadora no ISCTE. Quando este pesadelo “socrático” tiver o seu fim e a ministra voltar à sua actividade académica estará, por certo, munida de um grande potencial de informação para aprofundar o seu estudo sobre um certo tipo de engenheiro. O tema é aliciante e talvez fosse mais produtivo a senhora regressar à sua vida académica, pois a sociedade portuguesa tem uma necessidade urgente de compreender qual a função social deste engenheiro proveta que, por um infortúnio do destino ou investimento do poder económico, o que não deixa de ser um infortúnio, assume as funções de primeiro-ministro.

Ponta Delgada, 09 de Março de 2008

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