segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mais um trilião do mesmo

A cimeira do G20 decorreu com toda a normalidade. Nenhum dirigente espirrou, os movimentos anti-globalização invadiram as ruas, a polícia também, as decisões foram as esperadas e as declarações oficiais idem, idem, aspas, aspas. As bolsas mundiais, perante esta regularidade, dispararam e transbordaram de entusiasmo.
Na passada quinta-feira o índice Dow Jones ganhava 3.45%, o Nasdaq avançava 3,83%, Londres fechou em alta, nos 4,28%, Paris ganhou 5,37%, Frankfurt, 6,08% e por aí fora em transbordante de entusiasmo.
A regularidade com que decorreu a cúpula dos senhores do Mundo e a decisão de injectar um trilião de dólares na “economia” mundial estão na base do regozijo bolsista. O modelo financeiro e económico reconfigura-se e adapta-se procurando desculpabilizar a sua falência na irresponsabilidade de alguns especuladores.
As decisões do G20 têm um carácter avulso e cosmético nada se alterou. O modelo de desenvolvimento e as políticas mantêm-se inalteráveis e talvez, por isso, o entusiasmo não tenha transbordado para lá dos limites da especulação bolsista.
A disponibilização de uma grande massa financeira tem por único objectivo garantir a liquidez dos mercados, ou seja, como se diz na gíria popular “dar o ouro ao bandido” pois, a responsabilidade pela crise em que as economias estão mergulhadas são da responsabilidade das organizações que agora vão beneficiar das decisões do G20, de resto são medidas de cariz assistencialista, uma ténue intenção de “regular” os off-shores” e os paraísos fiscais e o acentuar da liberalização do comércio mundial garantindo a hegemonia e os interesses das grandes potências.
O G20 mantém tudo na mesma com um trilião de dólares a mais para o Fundo Monetário Internacional (FMI) e para o Banco Mundial (BM). Sem mudar o modelo de desenvolvimento e sem orientações políticas para a aplicação da injecção financeira na economia mundial não há medidas anti-crise que resultem na melhoria das condições sociais e económicas da generalidade dos cidadãos.
O Mundo continua a definhar ao ritmo da morte de uma criança por cada 3 segundos que passam.
Aníbal Pires, IN Açoriano Oriental, 06 de Abril de 2009, Ponta Delgada

2 comentários:

Maria Margarida Silva disse...

Milhões de crianças vivem em condições humanas, sem saneamento básico, acesso à educação ou a serviços de saúde. Que têm feito para ajudar, os países desenvolvidos que, durante séculos, exploraram as riquezas de África, Ásia e América Latina?
Segundo especialistas da ONU, 2,1 mil milhões de pessoas ainda vão carecer de serviços de saneamento básico em 2015, sendo que, ao ritmo actual, a África subsariana só alcançará esse objectivo em 2076. Apesar de se terem registado progressos, Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, afirmou que os avanços têm sido dificultados pelo "crescimento demográfico, a pobreza generalizada, o investimento insuficiente e, sobretudo, a falta de vontade política".
A solução? Passa, segundo José Ferrer Benimelli, por completar o ditado chinês: «Se vires alguém com fome, não lhe dês de comer, ensina-o a pescar… e já agora compra o peixe que ele pescar».
Se assim fosse, continuou, não só se evitariam os 842 milhões de pessoas – 300 milhões dos quais são crianças – com fome no Mundo, como também se ajudaria países subdesenvolvidos a transformarem-se em países em desenvolvimento.
E, sublinhou o especialista, «não nos podemos esquecer que todos nós faremos parte da injustiça se permanecermos passivos perante estes dados e a miséria que existe em todo o mundo, ou mesmo ao nosso lado».
Beijinhos.

AGRY disse...

O FMI foi, e continua sendo, o principal instrumento ideológico e político para a proliferação do neoliberalismo à escala mundial. É uma corja abjecta cuja pobreza intelectual foi muito bem resumida por Joseph Stiglitz, quando disse que o FMI estava lotado de "economistas de terceira formados em universidades de primeira".
Miguel d’Escoto, presidente da Assembleia Geral da ONUu disse que o necessário não era um G20. Mas um G-192, uma cúpula de todos os países.