terça-feira, 14 de setembro de 2010

Desilusão nacional

Gosto de desporto e da actividade física e gosto da competição individual e colectiva que, na generalidade, lhe está associada. Fui praticante, treinador e dirigente de várias modalidades desportivas. Enquanto espectador e adepto poderei afirmar que a modalidade que mais prazer me dá assistir é o râguebi, nunca a pratiquei mas aprendi a gostar assistindo na televisão ao “Torneio das 5 Nações”. Eh! Já vão umas dezenas de anos. Para além desta modalidade sempre me interessei por outras, designadamente, pelo futebol, quando o futebol era desporto e os clubes não eram empresas. Vibrei com o Benfica e com a Selecção Nacional na década de 60 e 70 do século passado mas o encanto passou, não poderei afirmar, com toda a segurança que não vibro com os jogos da Selecção Nacional porque seria faltar à verdade mas, como disse, o fascínio há muito se desvaneceu.
Não sendo, assumidamente, um adepto de futebol não deixo, no entanto, de acompanhar o que à volta desse fenómeno de massas se vai passando nem poderia pois a comunicação social, sob as suas mais diversas formas, encarrega-se de o fazer mesmo sem que eu faça nenhum esforço. É a antecipação do jogo, é a unha encravada do craque, é o treino, é o aquecimento, é o árbitro, é o dirigente de uma SAD, é a Liga, é a Federação, são os adeptos, é a polícia, são os comentadores, são os contratos milionários, é a publicidade, são os direitos de transmissão, são as análises em estúdio aos erros de arbitragem, é o treinador e o adjunto, são os comentadores, é o apito dourado, são os 90 mn de jogo, são as entrevistas relâmpago, é o tempo extra, é o dia seguinte, é o outro dia… são os comentadores e por aí fora até à exaustão, percebo porque assim é mas, haja paciência para tanto “ponto cruz” e tão pouco futebol, enquanto modalidade desportiva entenda-se.
Tudo isto a propósito do “escândalo” dos resultados nos primeiros jogos de apuramento para o “Europeu de 2012”, eu diria muito simplesmente que a culpa disto tudo é do governo de José Sócrates e os leitores dir-me-ão: deixa-te de brincadeiras que o assunto é sério.
Sim, O assunto é sério, E eu não estou a brincar.
O assunto é demasiado grave, não por estar em causa o apuramento para o “Europeu”, todos os problemas do país se resumissem a esse, mas porque a condução da política desportiva em Portugal, para além de errada e perversa, tem estado entregue a uma personalidade cuja prosápia é incomensurável a quem José Sócrates entregou o cargo de Secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias de seu nome, e que tudo leva a crer terá metido o nariz onde não devia. Podemos dizer que Carlos Queiroz não tem perfil para seleccionador, podemos dizer que Gilberto Madail e a Federação Portuguesa de Futebol estão fragilizados, podemos especular na procura de responsabilidades e até arranjar bodes expiatórios entre os adjuntos, preparadores físicos, médicos ou, mesmo os jogadores mas, uma coisa é certa, a política desportiva nacional tem um responsável e, deve ser ao responsável político que, em última instância, se devem imputar as responsabilidades pelos bons ou maus resultados. O produto depende das políticas implementadas e das personalidades que as protagonizam. Neste, como noutros casos Laurentino Dias, Secretário de Estado do Desporto do Governo de José Sócrates, é o principal responsável e esse ónus ninguém lho poderá aliviar.
Ponta Delgada, 10 de Setembro de 2010

Aníbal C. Pires, In A UNIÃO, 14 de Setembro de 2010, Angra do Heroísmo

Sem comentários: