sexta-feira, 1 de abril de 2011

Bloco central não é solução

Os esforços de alguns sectores da sociedade portuguesa para promover um pacto de regime com base no PS e no PSD manifestam-se de várias formas e até Cavaco Silva tem, ainda que timidamente, mostrado essa vontade.
Quem pretende este tipo de entendimentos ou insiste na tese redutora da bipolarização da vida democrática nacional pretende formatar os cidadãos para a ausência de alternativas ao bloco central e tem como objectivo imediato para o próximo acto eleitoral a canalização de votos para os mesmos de sempre e, os mesmos de sempre são o PSD e o PS.
São estes dois partidos políticos, em tudo semelhantes no essencial dos seus projectos políticos, que governam Portugal desde a aprovação do texto Constitucional que resultou da Revolução de Abril, ou seja, são estes dois partidos que com o apoio do CDS/PP conduziram Portugal ao presente de crise, e que agora voltam às promessas para um futuro que mais parece um regresso ao passado.
Mais do que a encenação montada por José Sócrates para abrir espaço para a sua demissão e posterior vitimização e, mais do que a vontade do PSD em disputar já eleições pois, do alto do seu calculismo e estratégia eleitoral de luta pelo poder, este ainda não era o tempo adequado, nem foi a forma que mais podia favorecer eleitoralmente o PSD, mais do que a aparente radicalização do CDS/PP de exigência de demissão de Sócrates, mais do que todos esses factores que, no fundo, não passam de jogos de conquista do poder pelo poder pois, as transformações que o povo tem exigido na rua essas não constam da agenda nem do PS, nem do PSD, nem do CDS/PP.
Mais do que os jogos políticos de corredor com projecção mediática a queda do Governo de José Sócrates fica a dever-se um conjunto de factores dos quais o crescimento da luta de massas, atravessando muitos e muitos sectores e grupos sociais, as múltiplas manifestações, greves e outros protestos que se verificaram um pouco por todo o país, contribuiu decisivamente para a erosão da base de apoio da política do primeiro-ministro e, em última instância, para a queda do seu Governo.
A realização de eleições antecipadas interessa, desde logo, ao PS mas também ao PSD que, vêem com receio o crescimento da contestação na rua às políticas de que são ambos autores e executores. A realização de eleições antecipadas serão, para além de uma calculada estratégia político eleitoral, também um necessário momento de clarificação em relação aos rumos e às políticas de que o país precisa e, por outro, uma oportunidade para a mudança que os portugueses tanto têm reclamado.
A exigência de uma ruptura política e as expectativas dos muitos milhares de portugueses que, de múltiplas maneiras, têm expressado publicamente o seu descontentamento, não podem agora ser defraudadas pela continuação das mesmas políticas, com uma eventual substituição dos protagonistas da sua execução.
A formatação intensiva que está a ser implementada pelos analistas e politólogos nos meios de comunicação social tem o objectivo preciso de mudar para que tudo fique na mesma ou… pior. O poder vai ser devolvido aos cidadãos, cabe-lhes decidir o que pretendem para o presente e garantir o futuro que todos desejamos melhor.
Vila do Porto, 31 de Março de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 01 de Abril de 2011, Angra do Heroísmo

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