sexta-feira, 8 de abril de 2011

Não haja ilusões

A Região e o País atravessam tempos difíceis causados pela falta de rumo na governação, pela falta de decisão nas apostas estratégicas do desenvolvimento sustentável, social e economicamente justo.
O PS, com os seus governos da Região e da República, vai jogando o jogo de dar com uma mão para tirar com a outra, tentando gerir os descontentamentos, tendo como curto horizonte da sua cegueira, apenas o calendário eleitoral.
O Governo PS da República alterou as fórmulas de cálculo para atribuição de bolsas de estudo, deixando de fora milhares de estudantes do Ensino Superior. Logo vem o PS Açores e o seu esforçado líder parlamentar lamentar a situação e mostrar disponibilidade para minorar ligeiramente essa injusta decisão da sua própria força partidária.
O Governo do PS da República pretende cortar o subsídio de desemprego para desempregados de longa duração? Pois logo atrás vem o PS Açores lamentar as decisões do Governo do seu próprio partido e propor uma bonificação dos juros dos empréstimos destes desempregados, sobre endividados e desprovidos de rendimento e direitos.
O Governo Regional anunciou e passagens aéreas para o continente a menos de 100 euros. Muito bem! Cumpriu o anunciado. As tarifas a menos de 100€ existem de facto mas… há sempre um mas, representam apenas 10% da oferta disponível. Entretanto o custo final dos restantes 90% da oferta aumentou mais de uma dezena de euros!
Esta política de avanços e recuos, do tira e dá e do mal, o menos, é característica dos que não tomam partido nem posição dos que não têm ideias nem uma visão do futuro, é característica daqueles que têm como ideologia apenas o mais grosseiro e utilitário pragmatismo e, é altura de recordar que este comportamento político é fruto do pântano ideológico em que o PS se transformou. Ora de esquerda! Ora do centro! Ora de um tal radicalismo de direita que faz corar os próprios líderes do PSD e do CDS!
É por isso que o PS, na Região como na República, não tem soluções de futuro e não oferece nenhuma alternativa a não ser as velhas e conhecidas receitas de austeridade e de penalização dos trabalhadores, dos micro, pequenos e médios empresários e dos segmentos da população mais fragilizada social e economicamente.
A ruptura política que Portugal precisa terá forçosamente de passar pelo reforço eleitoral da esquerda. Da esquerda sem adjectivos que coloca os portugueses e Portugal como centro do seu projecto político e não se verga a interesses externos, nem troca a soberania nacional pelo Tratado Europeu ou pela integração na União Monetária. A alternativa passa por defender e reforçar a produção nacional, combatendo a nossa dependência externa, seja no plano agro-alimentar, seja na vertente industrial ou energética, passa por promover políticas activas de crédito e fiscais que sustentem a actividade das micro, pequenas e médias empresas.
E não haja ilusões. A alternativa a Sócrates não é certamente Passos Coelho com ou sem Paulo Portas.
Não venha agora o PSD tentar limpar-se das suas próprias responsabilidades na crise em que estamos porque em todas as decisões fundamentais para o país, esteve sempre unido ao PS e a José Sócrates.
O PSD esteve ao lado do PS na imposição de mais sacrifícios ao nosso povo no PEC 1, no PEC 2, no PEC 3 e no Orçamento de Estado para 2011.
E, em abono da verdade, também não esteve, nem está contra as brutais e desumanas medidas do PEC 4, de verdade verdadinha o PSD esteve contra a forma e não contra o conteúdo do PEC 4.
O PSD esteve sempre ao lado do PS na atitude de obediente submissão perante todas as inaceitáveis exigências da União Europeia, que mutilaram a nossa independência, a nossa economia que estrangularam, assim, as vias para o nosso desenvolvimento.
Foram ambos, PS e PSD, aqui e ali com a cumplicidade do CDS/PP, foi este pantanoso e promíscuo centrão que mergulhou o país nesta crise sem precedentes.
Não será com certeza o PSD de Passos Coelho que se constitui como alternativa, basta atentar à agenda política desenhada pelos seus seguidores para verificar que são os dogmas neoliberais que imperam, como foram os dogmas neoliberais que imperaram nos consulados de José Sócrates.
Horta, 24 de Março de 2011

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 08 de Abril de 2011, Ponta Delgada

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