terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dúvidas! Quem as não tem.

A produção eléctrica por vias ambientalmente sustentáveis e, por consequência, a redução da dependência energética dos combustíveis fósseis são propósitos amplamente consensualizados na sociedade açoriana com os quais estou de acordo, todavia, este pressuposto não pode, em nenhum momento, ser contraditório com a protecção da nossa elevada qualidade ambiental ou por em perigo o nosso património paisagístico.
A fragilidade dos nossos ecossistemas obriga-nos planear cuidadosamente quer a fonte energética mais adequada considerando o seu potencial, quer as perturbações ambientais e paisagísticas que a implantação no terreno das estruturas destinadas à produção energética assim, estes projectos devem ser precedidos de cuidados estudos e uma rigorosa e profunda avaliação dos seus impactos ambientais e acompanhados de um amplo processo de discussão pública, aliás um procedimento que caracteriza as sociedades modernas e desenvolvidas.
A eléctrica regional (EDA) tem um projecto para instalação de uma central de produção, na bacia da Lagoa das Furnas, projecto cuja base energética será uma hidroeléctrica reversível. Esta central de produção, cujo princípio é a energia hídrica, a ser implantada neste local terá de ter associada outra “lagoa” de modo a que a água possa ser bombeada nas horas do vazio para depois ser aproveitada para, por gravidade, fazer gerar o sistema produtor de energia eléctrica. Sobre este tema existe um interessante trabalho de mestrado da autoria do Eng. de Ambiente Alexandre Miguel Gomes Pereira.

A ideia de uma hidroeléctrica reversível na Lagoa das Furnas pode resultar num bom projecto dependendo do resultado da avaliação e cruzamento de um conjunto de variáveis que terão de ser devidamente estudadas. O custo benefício não pode ser apenas avaliado do ponto de vista económico, dado o que está em jogo esta avaliação tem de ser alvo de um estudo global e integrado pois trata-se de uma área sensível do ponto de vista ambiental e, por outro lado de um local de grande interesse paisagístico e turístico.
Há, porém uma interrogação para a qual ainda não tenho resposta e que me deixa profundamente preocupado. Sobre este propósito da EDA a interrogação é: Porque se sabe tão pouco deste projecto? De facto as alusões ao projecto são vagas e dispersas, no entanto, a COBA já fez um estudo preliminar de impacto ambiental e, mais tarde realizou-se um estudo geológico cujo objectivo se relaciona directamente com o aludido projecto de construção de uma hidroeléctrica reversível na bacia da lagoa da Furnas.
A ausência de informação no espaço público regional é no mínimo estranha e daí a minha profunda preocupação. Projectos e obras são sempre objecto de grandes anúncios mediáticos e, logo este, tão pouca gente conhece. Ou serei eu que ando distraído!
A verdade é que se trata de uma zona protegida e não é difícil imaginar que um projecto deste tipo quer na fase da sua construção, quer na do seu funcionamento regular, pode ter sérios impactos em termos de contaminação de solos e aquíferos na zona da bacia hidrográfica da Lagoa das Furnas, impermeabilização de solos e consequente alteração do regime e caudal de outros aquíferos, mas também no plano paisagístico e mesmo sócio económico pois poderá da origem à redução de terrenos disponíveis.
As perguntas já as fiz por via institucional e aguardo resposta, a preocupação pública do cidadão está a ser partilhada neste espaço onde semanalmente procuro contribuir para a reflexão sobre uma variada gama de assuntos de interesse colectivo.
Ponta Delgada, 31 de Julho de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 02 de Agosto de 2011, Angra do Heroísmo 

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