terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma espécie de…

À entrada da última semana de Agosto e depois de um breve interregno eis-me de volta ao convívio com os leitores. Recomeçar é sempre difícil. E, este começar de novo não foge à regra. Fico sem saber se falo das ilusões do Verão ou, se tento uma aventura no futuro e me exercite a dissertar sobre o que os próximos meses nos reservam, para além do que já é conhecido como seja: o brutal aumento da taxa de IVA sobre o gás e a electricidade ou, o imposto extraordinário que nos vai levar o equivalente a 50% do subsídio de Natal, descontado o valor do salário mínimo.
A realidade é que o Verão já não é o que era! Um olhar, ainda que fugidio pelos títulos dos jornais nacionais, ditos de referência, e depressa concluo que aos “fait-divers” da “silly season” se juntam notícias a indiciar que também no Verão alguém continua a tramar os portugueses em nome de uma crise que sendo financeira se abate sobre quem, de finanças apenas sabe como evitar que sobrem dias ao salário mensal e, ainda assim, cada vez mais portugueses recorrem ao assistencialismo instituído para suprir o défice financeiro doméstico provocado por uma política de rendimentos que penaliza o trabalho e favorece o grande capital.
No presente o resultado desta política de rendimentos e emprego vai configurar-se num “Plano de Emergência Social”. Esmolas! Certamente não iremos retroceder ao tempo em que os pobres e enjeitados se sentavam no adro da igreja à espera da moedinha que sossega as consciências e garante trabalho serviçal mas, lá que estamos a retroceder, lá isso estamos.
E isto preocupa-me! Preocupa-me este retrocesso civilizacional que tende a aumentar o número de seres humanos privados de acesso a trabalho com direitos e justamente renumerado, aliás, nada de mais, este é apenas um direito humano básico reconhecido pelas Nações Unidas.
A necessidade de competitividade e de modernização da economia nacional, a dívida pública e o custo do trabalho nas chamadas economias emergentes têm justificado tudo e, o bom povo português, herdeiro da mais longa ditadura europeia, vai aceitando mais e mais sacrifícios, mais e mais retrocessos… até quando? Não faço ideia mas tudo tem o seu tempo e não é plausível que este povo não se revolte perante o continuado flagelo da verdasca do algoz estrangeiro empunhada pelos Migueis de Vasconcelos que habitam os ministérios onde se instalou o conselho de administração do FMI, BCE e EU, também conhecido como governo de Portugal e que é assim como uma espécie de comissão liquidatária do Estado.
Ponta Delgada, 21 de Agosto de 2011

Aníbal C. Pires, In A União, 23 de Agosto de 2011, Angra do Heroísmo

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