quarta-feira, 21 de novembro de 2012

... a esperança parece que já não vale a pena(*)


Mesmo quando, até a esperança parece que já não vale a pena há sempre uma réstia de alento que nos diz que sim. Que há esperança! E que vale a pena, seja a alma grande ou pequena. Há esperança porque ela, a esperança, é a última a morrer. Só morre com o homem. 
Por isso vale a pena! Pelo homem! Pela humanidade! Vale a pena lutar.
Vale a pena lutar porque esse é o caminho a seguir por quem tem vindo a ser saqueado, este é o termo não outro. Saqueado no seu rendimento, saqueado nos seus direitos, saqueado na sua dignidade. Saqueado no seu futuro.
Vale a pena lutar por uma sociedade verdadeiramente democrática e justa. Vale a pena lutar na defesa dos direitos laborais e sociais. Vale a pena lutar pela defesa dos serviços públicos de saúde, de educação e de proteção social. Vale a pena lutar pela rutura com estas políticas de destruição dos sectores sociais do estado e pela sua entrega à voragem de um capitalismo selvagem, vulgarmente designado por crise.
E a luta é pelo direito ao trabalho com direitos. A luta é contra a precariedade das relações laborais. A luta é contra o pecado que constituem os escandalosos lucros da banca e dos seguros. A luta é das populações que se veem privadas dos serviços públicos. A luta é dos micros, pequenos e médios empresários, que verdadeiramente estruturam social e economicamente, que se veem preteridos pelos grandes grupos económicos nos apoios e nos benefícios. A luta é pelo futuro. O futuro da humanidade.
A desvalorização do trabalho, da cultura e do ensino conduzem à pobreza, à exclusão social, ao desemprego e são o produto acabado do modelo de desenvolvimento económico depredador dos recursos naturais e dos direitos sociais e económicos.
Esta barbárie, por vezes confundida com civilização, tem de ter fim e cabe-nos a todos providenciar o seu óbito. 
Vale a pena lutar mesmo quando a esperança parece que já não vale a pena. Porque só lutando a esperança renasce e, renascendo valeu a pena.
(*) Este texto foi escrito e publicado em Maio de 2007. A sua intemporalidade justifica que, de novo, o partilhe. Desta vez com outros públicos. 
Horta, 19 de Novembro de 2007

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 21 de Novembro de 2012, Angra do Heroísmo 

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