segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Políticas, personalidades e vias


A X Legislatura tem o seu início nestes primeiros dias de Novembro. O que muda!? Nada ou, muito pouco. O Parlamento mantém a mesma configuração, 33 deputados da esquerda, 24 deputados da direita, considerando a habitual nomenclatura atribuída aos partidos que têm assento parlamentar. 
O Governo, o XI, tem um novo Presidente, novos Secretários Regionais e foi apresentado em versão minimalista, dizem que é para agilizar mas, ligeireza não rima com centralizar, digo eu e, dirá o tempo.
O tempo dirá que: Turismo, Transportes, Obras Públicas, Comunicações, Tecnologia e Energia, são estas as competências, de entre outras minudências, da Secretaria tutelada por Vítor Fraga, o que é muita uva numa cesta só, mesmo para um corvino.
O mesmo se poderá dizer para todos os outros departamentos propostos por Vasco Cordeiro, designadamente para a Vice-presidência, mesmo com o turbo-Sérgio Ávila na tutela das Finanças, Planeamento, Emprego e Competitividade Empresarial, de entre outras minudências como seja a Administração Pública. Ah pois, e nas minudências também os Assuntos Parlamentares.
O Povo Açoriano, soberanamente, e com a sua sabedoria optou por deixar tudo na mesma, mesmo que tudo possa, a olhos mais desatentos, parecer diferente. 
Sem retirar qualquer mérito a Vasco Cordeiro e ao que de novo ele possa vir a trazer à vida política regional, a verdade é que foi o projeto político do PS Açores que foi validado no passado dia 14 de outubro, ou seja, foi o PS Açores que venceu as eleições. Não foi Vasco Cordeiro.
As personalidades são importantes? Sem dúvida que sim. Mas mais importantes que os protagonistas são os projetos políticos e a matriz ideológica que lhes dá sustentação e, em bom rigor, foi o projeto político do PS que os leitores sufragaram com uma acrescida maioria absoluta.
Em Portugal e na generalidade dos países europeus os partidos “socialistas” abandonaram, com a chamada terceira via, a sua matriz ideológica que se situava na social-democracia. Renderam-se às virtualidades do mercado e tentaram conciliar o inconciliável: o capitalismo fundado no mercado livre e o socialismo democrático.
Os povos europeus estão a pagar bem caro esta deriva ideológica dos partidos “socialistas” europeus. A aproximação aos partidos “populares” e a continuada cedência aos teólogos do mercado descaracterizaram os “socialistas” europeus que hoje não passam de uma mera imagem de marca para consumo dos eleitores flutuantes e que ainda têm algo a perder. Pouco, mas ainda têm.
Por muito que se lhe reconheçam qualidades e capacidades é neste cenário de faz de conta, que somos e não somos, que se move Vasco Cordeiro. E, por muito mérito que a personalidade tenha, a verdade é que Vasco Cordeiro está submerso neste pântano ideológico a que um dia Tony Blair chamou terceira via.
Horta, 04 de novembro de 2012

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário, 05 de novembro, de 2012, Ponta Delgada

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