quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os pobres que paguem a crise


A “profecia Maia” não se concretizou e o Mundo continua aí “vivinho da silva”. Sei que caminhamos para o fim mas, também sei que não será tão cedo que o planeta e a vida que ele alberga chegará ao fim. 
Apesar da contínua destruição, de espécies, de habitats, da desmatação da amazónia, das agressões ao que torna a vida possível, a Terra vai-se aguentando e regenerando. Até quando? Não sei, Sei que é necessário travar a auto destruição que a depredação dos recursos naturais está a provocar, sei isso e, sei que o paradigma de desenvolvimento ancorado exclusivamente no crescimento económico tem de ser profundamente alterado para que o fim não seja antecipado.
Não quero, não devo, e seria contra a minha própria natureza ser portador de desalento. Não sou pessimista, não me resigno, não aceito as inevitabilidades proclamadas por lacaios a mando dos senhores do Mundo e, acredito que é possível, assim o queiram os homens e os povos, superar este ciclo de desvalorização do trabalho e de concentração da riqueza, vulgo: crise; e retomar o caminho da justiça social e da dignidade para todos e cada um dos habitantes do planeta azul. Por isso luto, por isso resisto.
A notícia já tem uns dias, o governo vai realizar uma operação financeira para a recapitalização do Banif, serão mais de 1100 milhões de euros de capitais públicos canalizados para aquele banco comercial e privado.
Aos trabalhadores, aos reformados e pensionistas, aos pequenos e médios empresários, ao povo português em geral, o governo impõe sacrifícios e reduz os rendimentos, aos banqueiros mantém-lhes os benefícios fiscais e apoia a recapitalização. É importante reter um dado sobre o desempenho do Banif na primeira década do milénio – os lucros líquidos, neste período foram qualquer coisa como 508,4 milhões de euros, sendo distribuído pelos acionistas a quantia de 216 milhões de euros. Todos nos lembramos, se lembramos, do caso BPN e de outros. A saga vai repetir-se desta vez com o Banif.
Não é aceitável, é imoral, direi mesmo que é criminoso que após a aprovação e promulgação do Orçamento de Estado, que contempla um brutal aumento de impostos sobre os rendimentos do trabalho como o argumento de que o país necessita de reduzir o défice das contas públicas, venha agora o governo negociar com a administração do Banif uma operação financeira de recapitalização do banco com dinheiros públicos.
Afinal há ou não recursos financeiros públicos em Portugal? Haver há, para a banca para os grandes grupos económicos. E de onde provêm esses recursos financeiros? Do trabalho. Ah pois é.
A verdadeira natureza da “crise” fica clara com estas opções políticas. O problema do défice das contas públicas não decorre de os portugueses terem andado a viver acima das suas possibilidades, o problema decorre da má e errada utilização dos dinheiros públicos.
Ponta Delgada, 08 de Janeiro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 09 de Janeiro de 2013, Angra do Heroísmo

O cartoon foi retirado daqui

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