segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Modelos anacrónicos


Observação de aves e de cetáceos, mergulho com jamantas e tubarões baleia, jazidas fósseis, fenómenos vulcanológicos ativos, uma paisagem natural e humanizada singular, bailinhos de carnaval, romeiros, o culto do Divino, invulgares gradientes de verde em terra e, de azuis no céu e no mar, lagoas e zonas húmidas, os picos e o Pico, grutas, algares, caldeiras e o caldeirão, a flora endémica, grotas, ribeiras, cascatas de água quente e fria, trilhos de perder a respiração, floresta das nuvens, turfeiras, biscoitos, mistérios, praias formosas, piscinas naturais, temperaturas amenas e, por aí a fora.
Tudo isto e, muito mais que isto são os Açores. A natureza abençoou estas ilhas e os homens e mulheres que aqui chegaram souberam, de forma equilibrada, tirar partido dessa bênção salvaguardando o essencial do património natural garantindo a sustentabilidade das atividades produtivas e da vida. 
Da presença humana nestas ilhas resultou um património cultural marcado pelo isolamento, pela imensidão do oceano, pelo abandono de um poder distante, pela violência dos fenómenos naturais que por vezes parecem querer cobrar a bênção com que estas ilhas foram bafejadas, pelas injustiças sociais e económicas que os donos da terra provocaram e que empurraram milhares de filhos destas ilhas para lá do horizonte. Também isto são os Açores, os açorianos. Sim porque o que faz os lugares também são as pessoas ou, são-no sobretudo.
Os Açores têm uma elevada pluviosidade e humidade relativa e os dias de céu aberto nem sempre são tantos quanto desejamos. As condições climáticas de que por vezes nos queixamos são, todavia, responsáveis pela singularidade e beleza da nossa paisagem.
Os Açores têm tudo o que é necessário para serem um destino turístico de qualidade, diria mesmo de excelência, mas nunca um destino turístico de massas. Quem procura férias de hotel, praia e Sol, demanda outros destinos, não por serem mais adequados aos cidadãos que auferem rendimentos médios ou acima disso, mas porque nos Açores não temos, nem teremos, essa oferta.
O elevado custo das passagens aéreas limitam a vinda de forasteiros, sem dúvida que sim, assim como o elevado preço da hotelaria, da restauração e de outros serviços destinados ao turismo, limitam. O custo final de uma vinda pago pelos turistas que nos visitam é um custo composto, não se deve apenas ao alto preço das passagens aéreas. Quando leio e ouço alguns empresários da hotelaria queixarem-se dos elevados preço das passagens aéreas apetece-me lembrar-lhes que por metade do preço se encontram alojamentos hoteleiros, com a mesma qualidade, no seio da Europa do nosso (des)contentamento.
As abordagens e opções políticas ao desenvolvimento do setor do Turismo na Região mostraram-se, a realidade comprova-o, desadequadas. E se é verdade que os elevados custos das passagens aéreas são um constrangimento ao desenvolvimento do setor, também é verdade que outros existem e que o modelo para o setor faliu, é tempo de o reavaliar. Quem precisa de campos de golfe e de casinos quando se tem um património natural invejável, porque é único. 
Ponta Delgada, 27 de Janeiro de 2012

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 28 de Janeiro de 2013, Ponta Delgada 

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