segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ativos regionais


Tinha ideia de hoje trazer como principal tema deste texto os parasitas políticos, isto porque a semana passada adjetivei, disso mesmo – parasitas; alguns deputados do PS, na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, durante a discussão de um Projeto de Resolução sobre o Aeroporto de Santa Maria. Ainda pensei discorrer sobre um outro animal político muito frequente na Região e no País – o invertebrado, mas depois acabei, também, por abandonar esse tema.
Face ao que nos preocupa individual e coletivamente, face à importância de outros momentos, face ao conhecimento generalizado da anatomia e hábitos desses animais, políticos ou não, que pululam no arco do poder, abandonei a ideia. Há coisas bem mais importantes que esses esquálidos seres.
E se alguma coisa é importante, é a defesa dos ativos das nossas ilhas. É do geoposicionamento e dos fenómenos telúricos e vulcânicos que estiveram na origem deste território disperso na imensidão atlântica que decorrem, no essencial, os ativos a que me refiro. O povoamento por um povo que se apropriou do mar como caminho, a sua história e a história do relacionamento com os povos da bacia atlântica, mas também com todos os povos do Mundo, conferiu aos Açores uma importância que vai para lá da terra e do mar, sendo que é na terra e no mar que devemos procurar reduzir a dependência externa da nossa economia.
A anunciada intenção de os Estados Unidos baixarem o nível de utilização da Base das Lajes para o mínimo necessário aos seus atuais objetivos estratégicos, não se vai verificar o seu total abandono mas os efeitos da redução da presença da presença militar, vai ter como consequência um impacto social e económico negativo na economia da ilha Terceira e na economia da Região. A continuada desvalorização do Aeroporto de Santa Maria pela concessionária, agora do domínio privado o que irá, por certo, acentuar o desinvestimento, é outro sinal de abandono e, neste caso do desperdício nacional.
Estes dois exemplos trazem-me à lembrança a saída dos franceses da Ilha das Flores e o recente encerramento da Rádio Naval na Horta. Nem um nem outro terão a dimensão da redução da utilização da Base das Lajes pelos Estados Unidos mas, considerando os contextos não posso, julgo que não podemos, deixar de estabelecer alguns paralelos e, sobretudo, de tomar as providências que estiverem ao nosso alcance para salvaguardar o interesse regional.
E se é verdade que o caso da saída dos franceses da ilha das Flores e, agora esta anunciada redução da utilização da Base das Lajes pelos Estados Unidos não depende diretamente de nós. Foram e são decisões de estados soberanos cabendo, em primeira instância, ao estado português acautelar o interesse regional e nacional. No caso do encerramento da Rádio Naval na Horta e do desinvestimento e boicote à atividade do Aeroporto de Santa Maria as decisões são da exclusiva responsabilidade da República Portuguesa com algumas cumplicidades regionais e, sobre as quais a Região se tem mostrado impotente, apesar do esforço político feito, para influenciar as decisões a favor dos Açores e, quando é a favor dos Açores é, não tenhamos nenhuma dúvida, a favor do interesse de Portugal.
Ponta Delgada, 20 de Janeiro de 2012

Foto - João Pires
Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 21 de Janeiro de 2013, Ponta Delgada

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