quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Que ninguém fique em casa


Um número crescente de portugueses tem manifestado, de diferentes formas, a sua opinião contra o atual governo da República. O desagrado dos cidadãos manifesta-se em ações organizadas, por iniciativas espontâneas e por ações inorgânicas. Seja uma vaia ao Relvas, seja entoando a simbólica Grândola, seja indicando o número de identificação fiscal do primeiro-ministro para a fatura que a Autoridade Tributária exige que solicitemos, seja oferecendo uma viagem de ida para Toronto ao ministro da Economia, estes movimentos individuais ou coletivos têm em comum uma posição, constituem-se como movimentações e expressão de descontentamento, diria mesmo de oposição ao Governo do PSD/PP e contra as medidas de austeridade que têm sido impostas à generalidade dos cidadãos.
Com a chegada dos míseros ordenados de Fevereiro a onda de descontentamento vai engrossar e prevê-se que a manifestação do próximo dia 2 de Março seja bem demonstrativa desse desagrado. O apoio de inúmeras organizações, de entre as quais destaco a CGTP, permite antever uma massiva participação popular nas manifestações do próximo sábado. Nem posso esperar outro cenário face à violência com que as medidas de austeridade flagelam os portugueses.
Com os constantes atropelos à Constituição levados a cabo pela coligação de direita que nos (des)governa, perante a passividade e cumplicidade do Presidente da República, resta ao povo português vir para a rua expressar o seu desagrado e exigir a demissão deste governo e exigir uma política alternativa, uma alternativa política patriótica e de esquerda.
O momento histórico que vivemos exige que cada um de nós tome posição, posição contra este rumo de desastre para onde o PSD e o CDS/PP nos estão a conduzir. Esse será certamente o sentimento comum a quem no dia 2 de Março fizer ouvir a sua voz nas manifestações que estão previstas para todo o país. 
À expressão inorgânica do descontentamento, diria mesmo impugnação das políticas do governo de Passos Coelho e Paulo Portas, falta um elemento importante para esta luta: a alternativa política. Ou seja, existe uma consciência coletiva de que este caminho só pode ter um destino, o aprofundamento da crise social e económica e o empobrecimento do país mas, para essa expressão de oposição ser consequente tem de ter subjacente uma alternativa política de rutura, um caminho diferente, que só pode assentar na construção de uma sociedade onde haja maior justiça na repartição dos rendimentos e sacrifícios, e onde os interesses coletivos não continuem a ser subjugados à vontade de (alguns) privados. Este é sem dúvida o denominador comum do movimento popular que se manifestará Sábado. Não por acaso coincide exatamente com a luta e a proposta que o PCP, de há muito, apresenta aos portugueses. 
Horta, 26 de Fevereiro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 27 de Fevereiro de 2013, Angra do Heroísmo 

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