segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vampirismo


Quando me sentei para escrever trazia comigo a ideia de zurzir o Fernando Ulrich, não vou fazê-lo. Os ativistas de sofá e os humoristas encarregaram-se de o fustigar durante os últimos dias e as palavras, sendo importantes, não passam de palavras e, com elas aguenta, ai se aguenta, o Fernando. Gostaria de saber, isso sim se as palavras e os movimentos gerados nas redes virtuais se transformaram em ação. Quantos clientes do BPI levantaram os seus depósitos? Quantos créditos à habitação foram transferidos para outras instituições financeiras? O que aconteceu para lá das boas intenções declaradas no conforto do sofá!? Quanto caíram as ações do BPI!?
O episódio protagonizado pelo Presidente do BPI trouxe para o espaço público nacional, ainda que de forma acessória, informações esclarecedoras sobre o funcionamento do sistema bancário e financeiro, designadamente, sobre negócio da compra da dívida pública portuguesa. Nada que não se soubesse mas, desta vez só não percebeu quem não quer perceber ou, percebendo e aceitando é cúmplice ativo da destruição económica e financeira do país e do empobrecimento generalizado dos portugueses, neste lote incluo todos os, apoiantes do atual governo de Portugal, onde certamente o Fernando se perfila na primeira linha, como também se perfilou ao lado dos apoiantes de Sócrates, como também se perfilará ao lado do Tó Zé Seguro, ou de quem se lhe seguir, aliás ouvi ou li por aí que o setor financeiro já deu o aval a António Costa.
O BPI fechou 2012 com um lucro de 249,1 milhões de euros, superando as estimativas dos analistas, num período em que o produto bancário cresceu mais de 30%. Nos resultados apresentados sobressaem os ganhos obtidos com a alienação das obrigações do Tesouro que renderam quase 160 milhões de euros. O banco do Fernando para além de ter lucrado, em 2012, os referidos 160 milhões de euros por conta da agonia portuguesa beneficiou, no mesmo ano, de 1500 milhões de euros de fundos públicos para a sua recapitalização. Oh Fernando, assim qualquer um aguenta. Já sei Fernando, o ano de 2011 não foi muito favorável. É verdade os resultados foram fracotes mas quem te mandou especular com a dívida da Grécia, o mesmo é dizer com a vida de milhões de pessoas.
Se bem me lembro, e tu também, a crise tal como nos é contada teve origem no sistema bancário e financeiro, e não foi só em Wall Street, por cá as responsabilidades da banca são mais que muitas mas, paradoxalmente, quem está a pagar são os cidadãos e os povos.
A crise é muito mais do que nos tem sido contado e a solução não é, não pode ser, a reconfiguração de um sistema que comprovadamente se alimenta no empobrecimento dos cidadãos e dos povos sugando-os até à medula.
O Fernando não deixa de ter razão. Ele sabe até onde ir. E irá até onde tu aguentares. Ele sabe que pode ir até um pouco antes do ponto de rutura. Até lá tu aguentas e o Fernando, o Ricardo, o Passos e o Portas sabem disso.
Ponta Delgada, 03 de Fevereiro de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 04 de Fevereiro de 2013, Ponta Delgada

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