segunda-feira, 4 de março de 2013

A unir vontades(*)


No sábado passado, 2 de Março, um número indeterminado de portugueses, sabe-se que foram muitos, sabe-se que foram mais e, sabe-se que muitos mais serão, manifestou-se pelas ruas, avenidas e praças deste país triste e empobrecido. Este número indeterminado de cidadãos manifestou-se contra o governo e contra as políticas de austeridade, e este será o mínimo denominador comum que uniu as vontades de um número indeterminado de portugueses no passado sábado dia 2 de Março. Este número indeterminado de cidadãos que desceu às ruas, avenidas e praças deste país triste e empobrecido entoou uma canção que fala de igualdade e de fraternidade, uma canção que algumas gerações de portugueses guardam na memória como a cantiga que deu inicio à madrugada libertadora de Abril. A canção tem sido entoada como forma de protesto por pequenos grupos de cidadãos e, no passado sábado, dia 2 de Março, fez-se ouvir de novo, desta vez cantada por um número indeterminado de portugueses, sabe-se que foram muitos, sabe-se que foram mais, e esse número indeterminado de cidadãos que encheu as ruas, avenidas e praças deste país triste e empobrecido cantou, “O povo é quem mais ordena”, e o povo disse que não quer este governo, e o povo disse que não quer estas políticas, e o povo disse que não quer continuar a empobrecer para os bancos enriquecer.
Sabe-se que foram muitos, sabe-se que foram mais, sabe-se que muitos mais serão. Foram mais de dez, foram mais de mil, foram mais de um milhão, não sei, sei que foram muitos, sei que foram mais, sei que muitos mais serão.
Há sempre quem não queira ver, há sempre quem não queira ouvir. Os serventuários do poder delegado da troika, também conhecido por Governo, resolveram contar o número de manifestantes numa vã tentativa de diminuir a importância da iniciativa de protesto do dia 2 de Março, estes indefetíveis apaniguados do PSD e do CDS/PP também nos dizem que os poucos manifestantes até nem conhecem bem a canção, que se enganam, pois que se desenganem os “migueis de vasconcelos” do século XXI português e tratem de ver, e tratem de ouvir este povo que é quem mais ordena e, vão-se embora.
Sabe-se que foram muitos, sabe-se que foram mais, sabe-se que muitos mais serão. Foram mais de dez, foram mais de mil, foram mais de um milhão, não sei, sei que foram muitos, sei que foram mais, sei que muitos mais serão.
Vi lágrimas rolarem no rosto do meu povo, vi revolta nos olhares, vi determinação, vi esperança, vi vontade, ouvi jovens e velhos, ouvi filhos e pais, ouvi trabalhadores e reformados, ouvi mulheres e homens, vi e ouvi o meu povo determinado em unir vontades para escorraçar a troika e quem a representa em Portugal. 
Sabe-se que foram muitos, sabe-se que foram mais, sabe-se que muitos mais serão. Foram mais de dez, foram mais de mil, foram mais de um milhão, não sei, sei que foram muitos, sei que foram mais, sei que muitos mais serão a unir vontades para derrubar este Governo, sei que muitos mais serão a unir vontades para derrotar estas políticas de empobrecimento dos cidadãos e do país, sei que muitos mais serão a unir vontades para construir uma alternativa patriótica e de esquerda.
Ponta Delgada, 03 de Março de 2013

Aníbal C. Pires, In Expresso das Nove, 04 de Março de 2013, Ponta Delgada

As fotos foram tiradas daqui

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