sábado, 30 de novembro de 2013

Na Horta, evocação de Álvaro Cunhal

Caros amigos e camaradas, 
Esta exposição integra-se nas comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. O PCP realizou, ao longo deste ano, também nos Açores, um vasto conjunto de iniciativas que visam recordar, o intelectual, o dirigente comunista, o lutador pela liberdade, o homem que, como nós, tinha esperanças e sonhos e lutou para os realizar. 
Mas penso que mais do que recordar, estas iniciativas servem para transportarmos para o presente e para projetarmos no futuro uma importantíssima lição de vida e, mais ainda, uma verdade fundamental da condição humana, que me atrevo a formular desta forma:
– Somos homens porque sonhamos. Somos homens livres porque lutamos para realizar os nossos sonhos.
É este o ensinamento que retiro da vida e obra de Álvaro Cunhal e que reencontro em tantos rostos, em tantas vidas no Partido que era o seu Partido, neste Partido que é o meu Partido, neste Partido que é o nosso Partido.
 E, caros camaradas, neste Partido acima de tudo sonhamos. Somos sonhadores desmedidos que sonham um mundo sem exploradores nem explorados. Um mundo onde a liberdade de sonhar e de trabalhar para realizar os próprios sonhos seja a regra para todos os seres humanos. Um mundo mais equilibrado, mais justo, um mundo mais feliz. 
Este é o sonho que partilhamos com incontáveis gerações que vieram antes de nós. Este é o sonho que partilhamos com milhões de homens e mulheres de todo o mundo e a raiz da fraternidade que nos une, fraternidade que dizemos de maneira tão bonita no calor humano da palavra “camarada”. 
Este é o sonho que partilhamos com Álvaro Cunhal, camarada de sonho e de luta para o realizar. 
Neste Partido, aprendemos com Álvaro Cunhal a ser sonhadores militantes, pois sabemos, aprendemos, que quando a dureza da vida nos rouba a capacidade de sonhar, de ver um futuro diferente do presente que nos impõem, perdemos algo essencial. Um homem sem sonhos, um homem sem nada porque lutar nunca será um homem livre.
É por isso que os que querem manter a humanidade escravizada, amarrada à atafona de gerar lucros para outros, não gostam de homens que sonham e gostariam de ter um mundo sem sonhos, no fundo um mundo de cegos, que aceitassem passivamente e para sempre o seu domínio. Fosse em nome da União Nacional, em tempos idos, seja em nome da troika, neste áspero presente, o que pretendem é roubar aos portugueses a capacidade de sonhar uma vida e um país diferente. 
A esses, aos que querem perpetuar o seu poder sobre uma massa de explorados dóceis, dizemos, como o Álvaro sempre disse: Não! Aqui sonhamos! E lutamos e lutaremos para tornar os nossos sonhos realidade!

Caros amigos e camaradas,
Este sonho que partilhamos com Álvaro Cunhal é importante, mas é sobretudo um sonho útil. É, afinal, a condição dos nossos esforços e trabalhos. É por causa desse sonho que não nos deixamos ficar em casa descansados e vimos aqui e a tantos outros sítios, juntar-nos aos que sonham como nós, para unidos lutar, agir, transformar o mundo e a vida.
E também aqui, neste momento mágico em que o sonho se torna em ação transformadora, o Álvaro teve muito para nos ensinar. Mostrou-nos a determinação, a coerência, a racionalidade e a inteligência, em cada momento, perceber onde estão os interesses do nosso Povo, onde é que está o verdadeiro inimigo que é preciso combater. 
Ensinou-nos que de nada vale uma teoria revolucionária sem um Partido revolucionário que a leve à prática. Soube afastar do nosso Partido a “ferrugem do erro”, fosse o da pressa revolucionária de saltar etapas e querer desesperadamente tudo, já, agora, fosse o erro de abdicarmos de ser quem somos, vendendo a nossa identidade em troca de um assento à mesa do poder. 
Ensinou-nos que, para tornar realidade este nosso grande sonho coletivo, o nosso primeiro trabalho tem de ser o de ajuntar vontades, como Baltazar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas, no romance de Saramago.
O Álvaro ensinou-nos que o nosso trabalho de comunistas é hoje, como o foi durante os tempos negros do fascismo, como o foi sempre, o de levar esperança ao nosso Povo, o de mostrar que é possível um futuro diferente, o de por mais gente a sonhar e a transformar a vida.
Os tempos duríssimos que vivemos, o sofrimento que nos infligem, os muitos milhares de portugueses infelizes, a quem tentam roubar todos os dias a capacidade sonhar, tornam este trabalho ainda mais importante, ainda mais urgente. 
A sombra negra que, uma vez mais desceu, sobre Portugal, tentando abafar toda a esperança, tentando apagar todos os sonhos, humanos, simples, grandiosos por isso mesmo, faz com que precisemos cada vez mais das lições que Álvaro Cunhal nos ensinou.
Esta, camaradas, não é uma exposição sobre o passado, é uma exposição para o presente que queremos transformar, uma exposição para o futuro que, juntos, conquistaremos.
Cidade da Horta, 29 de Novembro de 2013

As fotos foram gentilmente cedidas pelo Jornal "O Breves)

Intervenção proferida na inauguração alusiva ao centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, Horta 29 de Novembro de 2013, 18 horas, antigas instalações da delegação do Banco de Portugal. A exposição estará aberta ao público até ao dia 5 de Dezembro.

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