quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Nem tudo são rosas

Passado o verão e o relativo alívio que trouxe à economia regional, a que não terá sido alheio a devolução do subsídio de férias aos trabalhadores da administração pública regional, mas nem tudo foram rosas. Ao olhar para a estatísticas do emprego regista-se que, em relação ao mercado de trabalho, este alívio não consistiu em efetiva criação de emprego mas, tão-somente na redução do ritmo de crescimento do desemprego. Passado que foi o mês de Setembro, a realidade emerge com todo o dramatismo e dureza. Mais 2477 desempregados inscritos, apenas no mês de Outubro, o que corresponde a mais 34,6% do que no mês de Setembro e mais 23,6% do que no mesmo mês do ano anterior; 
Este nível de desemprego tem um custo humano incalculável, mas representa também um custo de oportunidade esmagador para a Região. Em termos simples, se cada um destes trabalhadores desempregados auferisse o salário mínimo, seriam mais de 130 milhões de euros anuais a serem injetados na economia regional. Se para os partidos da troika o desemprego é uma inevitabilidade, para mim e muitos outros cidadãos, o desemprego é um desperdício económico e parte da estratégia de desvalorização do trabalho. E, se olharmos para as razões que levaram estes trabalhadores ao desemprego, percebemos outra parte significativa da estratégia de desvalorização do trabalho e dos trabalhadores. É que a esmagadora maioria dos novos desempregados chega a esta situação por via do “fim de trabalho não permanente”. Nos Açores, vemos os contratos sem termo a reduzirem-se, enquanto os contratos a prazo aumentarem mais de 12%, e o subemprego aumentar mais 10%, quando comparamos Outubro deste ano com o mesmo mês do ano anterior. A isto é o que os partidos da troika chamam “modernização do mercado de trabalho”, flexibilização da mão-de-obra, mas cuja designação é, na realidade, “precariedade laboral”, ou despedimento a prazo, se preferirem. 
Passado o verão doce da propaganda do Governo Regional, entramos no inverno amargo da realidade do sofrimento das famílias açorianas. 
Se ninguém nega que o desemprego é um problema nacional e que a campanha de destruição da economia nacional, levada a cabo pelo Governo PSD/CDS tem fortemente contribuído para o seu aumento mas, a verdade é que há razões que explicam o facto de o desemprego crescer mais, e mais depressa nos Açores do que noutras regiões do país. E essas razões, não as vamos encontrar lá longe, do outro lado do mar, mas sim aqui, na Região.
Foram as opções dos sucessivos governos regionais que fizeram com que os milhares de milhões de euros investidos nas últimas décadas não tivessem servido para tornar a nossa economia menos frágil, menos dependente e menos volúvel às flutuações dos mercados externos. Foram as políticas dos sucessivos governos regionais que não souberam consolidar, expandir e diversificar o nosso setor produtivo, não souberam preparar nem encontrar alternativas para o fim das quotas leiteiras, não souberam ou não quiseram combater a ditadura das grandes superfícies que mantém o rendimentos dos agricultores a níveis miseráveis. Foram os sucessivos governos regionais que não souberam modernizar e dar valor à nossa pesca, limitando-se a ampliar a dimensão das embarcações e a distribuir a rodos subsídios que pouca ou nenhuma riqueza criam. Foram os governos regionais que contribuíram para criar, na nossa Região, um desmesurado setor da construção civil, envolvendo milhares de trabalhadores, com baixas qualificações. Foram os sucessivos governos regionais que não souberam criar um verdadeiro mercado interno, que recusaram sempre criar os circuitos de transporte de que precisamos, andando agora, tarde e más horas, a inaugurar ferries e a anunciar novos navios, navios que há muito deviam estar a operar no nosso mar. Foram os sucessivos governos regionais que mantiveram sempre a política de baixos salários, e teimam em mantê-la recusando-se a aumentar o acréscimo regional ao salário mínimo, que esmaga a procura interna e reduz brutalmente as vendas das nossas empresas, geradoras de riqueza e criadoras de emprego.
Foi a crise internacional, sim, mas foi sobretudo a política troikista com a qual o PS, o PSD e CDS/PP estão subservientemente alinhados, quer na República, quer na Região, que não conseguiu protegeu os Açores nem protegeu o Povo açoriano.
As vistas curtas dos partidos da troika que fizeram deste ano que termina mais um ano amargo e difícil para os portugueses e para os açorianos em particular. Não tinha de ser assim, tal como 2014 não tem de ser o ano negro que nos anunciam e que querem dar como inevitável. As dificuldades que vivemos não são uma inevitabilidade, são o resultado de uma política que é, nos seus aspetos essenciais, partilhada por PS, PSD e CDS/PP. 
A solução não passa, obviamente, nem por deixar tudo como está, nem por insistir em mais do mesmo. A única saída, para os Açores e para Portugal, é uma mudança profunda das políticas que nos arruínam mais e mais a cada dia.
Horta, 10 de Dezembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Diário Insular, 11 de Dezembro de 2013, Angra do Heroísmo 

Foto => Catarina Pires

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