segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O ciclo está a terminar


A crise aproxima-se do seu fim e o Mundo acabou. Acabou tal como o conhecemos nas últimas décadas e, a crise já cumpriu o essencial do seu papel. Isto até parece uma má e uma boa notícia. Lamento mas não são, nem boas nem más notícias e o fim da crise e do Mundo, como o temos vivido, são uma e a mesma coisa, não são duas.
Também não é nenhuma premonição e muito menos um voto para 2014, é tão-somente uma constatação, ainda que sem fundamento científico ou empírico. Especulação, Sim talvez ou, mesmo um devaneio provocado pelos indicadores disponíveis e não por qualquer alucinogénio. Seja lá o que for, para o caso não interessa pois esta é uma crónica do quotidiano, publicada em tribunas livres. É uma opinião livre mas alinhada, comprometida com a humanidade e com a defesa das construções sociais conquistadas ao longo de muitos séculos de luta contra o domínio de um grupo humano sobre outros.
Quando digo que o Mundo acabou não me refiro a nenhum fenómeno do tipo apocalíptico bíblico mas ao cataclismo que está a afetar e a transformar as nossas vidas. O fim dos direitos sociais, sim esses que foram conquistados com luta e, um retrocesso de décadas com o roubo dos salários, o aumento dos impostos, as limitações no acesso à educação e à saúde, o aumento da idade da reforma, as alterações ao regime da segurança social, as limitações aos tempos de descanso e de férias, o aumento dos horários de trabalho. 
As transformações são brutalmente dramáticas pelo que de materialmente significam mas, sobretudo pelos efeitos sociais e culturais que produzem. Para generalidade dos jovens é dado aceite a insegurança no trabalho, traduzido em trabalho temporário e a recibos verdes, os seguros de doença e os planos de reforma, vendidos pelas instituições financeiras, assim como aceite está a formulação da falência do estado social e a supremacia da liberalização e dos mercados. Mas não são só os jovens a “acomodarem-se” também na minha geração se foi enraizando esta ideia, ouço dizê-lo mas sobretudo constato-o pela inércia que lhes tolhe a ação, que os impede de voltarem a lutar por aquilo que ajudaram a construir.
Quando afirmo que a crise está a chegar ao fim, será anunciada um destes dias, fundamento essa afirmação no facto dos seus objetivos estarem praticamente todos alcançados. A desregulação das leis laborais, a diminuição brutal dos custos do trabalho, a liberalização dos mercados, as privatizações, ainda faltam algumas, e a paridade, no financiamento dos sector público e privado, na saúde, educação e segurança social, tudo em nome da liberdade individual para escolher, pois está claro.
Tudo isto me entristece, tudo isto me perturba. Gosto do meu país, gosto do meu Povo, Povo de onde nasci, mas por vezes o desespero toma conta de mim e, pergunto-me como é possível tamanha passividade, como é possível esta forma de ser e estar. Percebo, ou pelo menos esforço-me por compreender esta vocação para a submissão mas, custa-me assistir à apatia da generalidade dos meus concidadãos perante a privatização da EDP, dos CTT, da ANA ou do grupo segurador da CGD, ou outras que se desenham no horizonte, como seja o caso da TAP.
Perturba-me e entristece-me mas é, também aí, junto do meu Povo, que busco alento e energia para continuar a lutar pela afirmação de uma alternativa à barbárie que assola o Mundo, a lutar pela afirmação dos direitos contra a servidão para onde, os lacaios dos oligopólios financeiros remeteram os portugueses.
Votos de um BOM ANO de 2014! É possível, Sim é possível se acreditarmos que há alternativas, se lutarmos contra o empobrecimento, se ousarmos ser contra o pensamento dominante cultivando a participação cívica e política. É possível, Sim é possível se nos insurgirmos contra a desgraça que graça. 
Ponta Delgada, 29 de Dezembro de 2013

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário et Azores Digital, 30 de Dezembro de 2013, Ponta Delgada e Angra do Heroísmo 

Foto=> Catarina Pires

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