segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Qual o valor da vida

Foto - Aníbal C. Pires
Condeno veementemente e de igual modo todos os atos de violência e de terror sejam eles perpetrados no coração de uma cidade europeia ou em qualquer outra parte do Mundo. A vida humana não vale mais em Paris, do que em África, na Síria, no Líbano, em Israel ou em Gaza, no Iraque, no Afeganistão, no Saara Ocidental ou em qualquer outro rincão deste nosso Mundo.
Nos últimos dias foram perpetrados ataques terroristas pelo DAESH (designação para “estado islâmico” da qual os jihadistas não gostam, ameaçam até cortar a língua a quem os designar dessa forma) no Líbano, na Síria e em Paris. Tendo estes atos de terror a mesma origem a sua condenação e a consternação assumiram, porém, dimensões diferentes. Nada de novo. Em Abril passado todos foram Charlie e poucos foram quenianos. É a proximidade, sem dúvida. Mas é sobretudo a falta de informação e a formatação da comunicação que induz estes comportamentos de cidadania que diferenciam o valor da vida. Mas essas análises deixo-as para a psicologia social que, seguramente, encontrará as explicações para este fenómeno que aos meus olhos configuram, tantas e tantas vezes, puros exercícios de hipocrisia.
Falamos de terror e de terrorismo quando são ceifadas vidas inocentes com recurso à violência armada, seja disparando indiscriminadamente sobre a população, seja com atentados à bomba com viaturas armadilhadas ou ainda quando alguém se faz explodir a si próprio em locais de grande concentração de pessoas. Mas o que dizer, como adjetivar os motivos que estão na origem das crianças que desde que está a ler este texto já morreram com fome e subnutrição. Que dizer e como adjetivar os motivos que estão na origem das pessoas que desde que está a ler este texto já morreram devido a doenças provocadas pela falta de água potável, saneamento básico e higiene. Não será isto terror, Não será isto terrorismo.
Foto retirada da internet
Voltando aos terroristas do DAESH à sua génese e apoios, terroristas que não devem ter lido esta parte do Corão, "Não matareis a pessoa humana porque Alá a declarou sagrada" (Corão,VI,151). Os dados disponíveis apontam para que este grupo e outros semelhantes tenham sido criados, financiados e armados pelo Ocidente através do seu braço armado, a NATO. A intervenção russa na Síria veio demonstrar que os Estados Unidos, os seus principais aliados e a NATO estão na Síria, como estiveram no Kosovo, no Iraque, no Afeganistão e na Líbia para derrubar os ”regimes” e daí retirarem os dividendos conhecidos e não para combaterem o DAESH. Como sabemos não são os “regimes” que interessam à NATO porque se, verdadeiramente, fossem os regimes a motivação para as intervenções militares mais ou menos encapotadas a Arábia Saudita, de entre outras ditaduras do golfo pérsico, já há muito teriam sido objeto de intervenções militares e do derrube do “regime”.
O terrorismo assuma ele a forma da fome, da desigualdade ou dos atentados violentos, ou quaisquer que sejam as suas causas e objetivos proclamados, serve sempre os interesses dos donos do Mundo, o capital financeiro. A resposta mais eficaz ao terrorismo passa necessariamente pelo combate às suas raízes, sejam elas políticas, económicas e sociais, e pela defesa e afirmação dos valores da liberdade, da democracia, da soberania e independência dos Estados.
Ponta Delgada, 15 de Novembro de 2015

Aníbal C. Pires, In Jornal Diário e Azores Digital, 16 de Novembro de 2015

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