sábado, 15 de setembro de 2018

A demanda de José Filemom - Crónicas radiofónicas






Do arquivo das crónicas radiofónicas na 105 FM

Esta crónica foi para a antena a 23 de Junho de 2018 que pode ser ouvida aqui








A demanda de José Filemom

Foto by Aníbal C. Pires
Tenho para comigo que pouco acrescentarei ao muito que os leitores, do mais recente romance de Joel Neto, têm dito e tornado público sobre o “Meridiano 28”, mas ainda assim e correndo o risco de não acrescentar rigorosamente nada às apreciações já feitas. Ainda assim, e, porque não tenho temor de arriscar, aqui fica a minha opinião. Opinião que é apenas mais uma, entre muitas outras.
Para quem não conhece a história dos Açores e, neste particular, a história do Faial do século XX ficará com curiosidade em saber mais depois de ler o “Meridiano 28”, se já antes a baleação e a presença dos Dabney tinham contribuído para a transformação social e económica desta ilha açoriana, a instalação dos cabos submarinos e a fixação de uma significativa comunidade alemã e inglesa, mas também o início da operação aérea dos clippers da Pan Americam, em 1939 e que se prolongou durante o período da II Guerra Mundial, fixaram, naturalmente muitos americanos. A cidade da Horta acolhia, ainda, uma diversidade de outras nacionalidades menos numerosas, é certo, mas que lhe conferiam caraterísticas únicas. É neste ambiente cosmopolita e de interação entre as diferentes comunidades estrangeiras e algumas famílias faialenses que se desenrola a teia urdida pelo Joel Neto e que os leitores vão, sofregamente, acompanhando ao passar de cada página.
Apesar do que ficou dito e o que mais me aprouver dizer, o “Meridiano 28” não é um romance de época, Digo eu, salvaguardando melhores e doutas opiniões. O mais recente romance de Joel Neto é intemporal como o é o amor e o ciúme, a amizade, a convivência pacífica e a solidariedade, mesmo em tempo de guerra, como é o sonho e a fantasia, a natureza tranquila e bela, mas também uma natureza capaz de enormes cataclismos que podem transformar (transformou) as fronteiras de uma pequena ilha do Atlântico Norte.
Se o centro desta urdidura de Joel Neto é a cidade da Horta e o período da II Guerra Mundial a estória não se confina nem ao espaço, nem ao tempo, outra coisa não se podia esperar pois, os açorianos nunca se deixaram espartilhar pelo horizonte. O horizonte é logo ali e para lá dele ficam os sonhos e outros Mundos, outras verdades. E é a demanda de José Filemom, por outros lugares outros tempos, que acompanhamos ao longo da teia que o Joel urdiu.
Sendo de um tempo de guerra este não é um livro sobre os horrores da guerra. Este será, também, um aspeto que diferencia este romance de outros cujo tema se centra neste período negro da história da humanidade que foi a II Guerra Mundial.
Depois de ter lido o “Meridiano 28”, e mesmo conhecendo razoavelmente o Faial e a sua história o meu olhar sobre a cidade da Horta e a ilha do Faial nunca mais será o mesmo.
Obrigado Joel.

Quanto a si que esteve comigo, Fique bem.
Eu voltarei, assim o espero, no próximo sábado

Aníbal C. Pires, Ponta Delgada, 30 de Junho de 2018

Sem comentários: