do arquivo pessoal |
Texto escrito, em 2019, para o programa “Os Porquês” da SMTV (pode ver aqui). A data tem importância pois, nesse ano o “dia das amigas” ocorreu com o “dia dos namorados” (dia de S. Valentim), e o texto refere essa coincidência.
Programa n.º 16 – Porquê o S. Valentim quando temos o Santo António e até o S. Gonçalo de Amarante?
imagem retirada da internet |
O “dia dos namorados”, dia de S. Valentim, uma celebração importada para as rotinas regionais e nacionais, coincide com o “Dia das Amigas”.
Nada que o marketing não resolva para minimizar esta infeliz coincidência do calendário.
Já estou a imaginar as sugestões:
“Venha almoçar com o seu namorado e fique para jantar com as suas amigas”, ou vice-versa. Embora nos Açores, considerando a importância do “Dia das Amigas”, julgo que a opção da oferta comercial será a que eu referi.
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Apesar de tudo, tenho cá para mim que, neste caso, a tradição será mais forte do que a importada celebração de S. Valentim.
Percebo e compreendo o que está na génese da integração nos nossos hábitos do “dia dos namorados” e do “dia das bruxas”, embora considere que não há necessidade de importar tradições que nos são exógenas, quando temos igual ou análogo na nossa cultura e tradição.
Veja-se, por exemplo, a celebração do “dia dos namorados”. É dia de santo. Dia de S. Valentim bispo que, apesar da proibição da celebração de casamentos pelo imperador Cláudio II, continuou a fazê-lo clandestinamente. S. Valentim foi sacrificado e santificado e, agora é celebrado, um pouco por todo o Mundo, pelo calendário comercial da globalização.
Cá por mim festejo o amor todos os dias e, por outro lado um país que tem o Santo António de Lisboa e o São Gonçalo de Amarante pode, muito bem, dispensar o S. Valentim. Ou será que a devoção pelos nossos santos casamenteiros caiu em desgraça. Julgo que não.
E não me parece que haja por aí muitos devotos do padroeiro dos namorados, aliás a celebração do dia de S. Valentim terá muito pouco a ver com o próprio como todos nós temos consciência. O dia dos namorados é um produto globalizado pelo marketing, apenas isso.
noivas de santo António - imagem retirada da internet |
Santo António é, no Brasil, um dos santos mais populares, exatamente por ser um santo casamenteiro.
Mas como é que em Portugal convivem pacificamente dois santos casamenteiros. Claro que Amarante ainda dista de Lisboa, mas não é só a geografia e a distância que permitem esta coexistência pacífica, embora, como mais adiante irei referir haja por parte das jovens mulheres de Amarante alguma contestação à influência de S. Gonçalo nos assuntos do favorecimento do casamento.
doce fálico de Amarante - imagem retirada da internet |
Como resultado desta discriminação de São Gonçalo em relação à jovens mulheres da região de Amarante nasceu a seguinte quadra popular:
S. Gonçalo de Amarante/Casamenteiro das velhas/Porque não casas as novas?/Que mal te fizeram elas?
Até na diversidade estamos melhor servidos com os nossos santos do que com S. Valentim, ainda assim Santo António de Lisboa e S. Gonçalo de Amarante acabam por ser preteridos em favor do santo adotado pelo mercado e pela sociedade de consumo.
Ponta Delgada, 30 de janeiro de 2019
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